Aprendendo a gostar do palanque

"Parece que a Dilma está gostando de fazer comício", comentou um assessor da senadora Vanessa Grazziotin (PC do B), enquanto a presidente Dilma Rousseff entoava, em comício nesta semana em Manaus, frases de efeito na linha do "nós", governo, contra "eles", PSDB.

"Está feito o Lula. Só pensa naquilo", respondeu um auxiliar presidencial.

Nos atos de campanha, Dilma tem se mostrado mais parecida com o antecessor. Ainda longe do carisma do ex-chefe, alfinetou adversários nas cinco capitais por onde passou nesta eleição.

Dilma está diferente da candidata de 2010: hoje dança, canta jingles e joga as flores que ganha no palanque às mulheres da plateia.

Em Salvador, soltou um "governinho pequenininho", em referência velada, mas zombeteira, à estatura do rival de lá, ACM Neto (DEM).

É Lula quem costuma provocar integrantes da oposição nesse tom.

Em Belo Horizonte, ainda no primeiro turno, atacou sem cerimônias o provável concorrente tucano na disputa em 2014, Aécio Neves.

DISCURSOS CÁUSTICOS

Quem acompanha a rotina da petista e seus discursos cada vez mais cáusticos nesta campanha descreve cenas pouco vistas até agora. Neste segundo turno, ela consome pesquisas, acompanha debates e vibra sobretudo com o avanço de aliados em São Paulo e Campinas.

Na segunda-feira, quando desembarcou na capital do Amazonas para tentar ajudar sua candidata a sair de um difícil segundo lugar nas pesquisas contra o tucano Arthur Virgílio, atendeu a um pedido de última hora: gravar para um candidato do PSOL de Belém -Dilma não gostava, ou não gosta, desse tipo de surpresa.

O PSOL é oposição das mais ferrenhas, mas o concorrente de Belém é tucano. Foi a senha para o "sim".

Um outro trecho do discurso em Salvador chamou atenção: "Jamais perseguimos ou discriminamos ninguém [...] mas isso não significa que não saiba quem faz parte do meu projeto, do meu time, da minha família."

A surpresa vem do termo "família". Os petistas, claro, vibraram com o afago, e já reclamam menos do tratamento distante dispensado pelo Planalto no primeiro turno.

MUDANÇA NO SCRIPT

O script da campanha também tem mudado.

Em Manaus, resolveu pernoitar -fato raro. Depois do comício, em vez de se fechar no quarto do hotel Tropical, preferiu relaxar em jantar com os aliados do Estado. Lá, não se falou em política, só do medo de voar de avião e da segurança ostensiva em deslocamentos políticos.

No palanque, disse que as pesquisas não ganham eleição. No jantar com a candidata, foi a vez de mostrar ceticismo com a meteorologia. A presidente visita sempre a cabine do AeroDilma e ordena que o piloto desvie a rota ao primeiro sinal de mau tempo: "Previsão do tempo é o meu olho", disse ela no seleto convescote.

Mais cedo, logo após jogar ao público a primeira flor que recebera do mestre de cerimônias, Dilma abaixou-se e começou a colher outras rosas vermelhas da decoração.

Todos, claro, a seguiram.