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Carga pesada

Após perder duas eleições presidenciais, Serra aumentou ritmo n a reta final na tentativa de evitar a derrota no principal reduto tucano

MARIO CESAR CARVALHO
DANIELA LIMA
DE SÃO PAULO

O que você faria se estivesse 10, 15 pontos atrás do seu adversário, com taxa de rejeição na casa dos 50%, apoiado por um partido rachado e quase sem dinheiro para a campanha? José Serra sorri.

Aos 70 anos, o candidato tucano à Prefeitura de São Paulo passou a última semana de campanha numa espécie de universo paralelo, repetindo a frase que virou o mantra de sua equipe: "Nas nossas pesquisas, a disputa está empatada".

Políticos são atores por excelência, mas Serra parece acreditar no que diz. Aumentou o ritmo da campanha desde a última segunda-feira, com quatro, cinco eventos públicos por dia. Elevou o tom dos ataques ao PT. E apresentou propostas novas, como a de ampliar a validade do Bilhete Único de transporte de 3 para 6 horas.

Pensar em derrota e fazer campanha são atividades incompatíveis, segundo ele.

O pico do desespero parece ter ficado para trás. Após o primeiro turno, com as pesquisas apontando vantagem de Fernando Haddad (PT), a equipe de Serra estava tão abatida com as perspectivas de derrota que propôs ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) que se licenciasse para se dedicar à campanha.

Alckmin disse não.

Numa ironia histórica, o governador tornou-se o principal cabo eleitoral de Serra. Em 2008, quando disputou a prefeitura, foi boicotado por Serra e acabou derrotado.

Os alckmistas acham que o governador fez mais por Serra do que Serra fez por ele. Exemplo 1: Alckmin colocou um dos seus principais aliados, o secretário Edson Aparecido, para coordenar a campanha. Exemplo 2: o governador é o principal garoto-propaganda na TV pela boa avaliação de sua gestão.

VELÓRIO

Serra não queria ser candidato a prefeito. Derrotado duas vezes em eleições presidenciais, em 2002 e 2010, preferia disputar mais uma vez, em 2014. Para ter projeção nacional e fazer frente a Aécio Neves, tentou em 2011 ser presidente do Instituto Teotônio Vilela, entidade acadêmica do PSDB de prestígio limitado mesmo dentro do partido, e acabou derrotado.

Foi quando notou que o sonho presidencial tornara-se impossível. Usou uma metáfora fúnebre para falar da candidatura a prefeito. Se ganhasse, seria um velório de luxo, com direito a banda. Se perdesse, um enterro pobretão.

A sua decisão de disputar as prévias, em março, rachou o PSDB. Serra entrou no páreo quando já havia quatro pré-candidatos: Andrea Matarazzo, Bruno Covas, José Aníbal e Ricardo Trípoli.

Aníbal, desafeto histórico de Serra e um dos favoritos nas prévias, acusou-o de interromper o processo de renovação do partido. Com a ajuda de Alckmin e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, obteve só 52% dos votos nas prévias.

MASSAGISTA NA SUÉCIA

Vira e mexe o clima ruim reaparece na campanha. Na última terça, numa caminhada no Tatuapé, na zona leste, o vereador Toninho Paiva (PR), que apoia Serra, desabafou sem ser questionado: "O PSDB está dividido e bagunçado. É por isso que a campanha está assim: sem dinheiro pra nada".

A reclamação sobre a falta de dinheiro virou rotina. No segundo turno, os tucanos não tinham recursos para fazer um comício (orçado em R$ 70 mil) ou para cavaletes de propaganda. A saída, segundo Aparecido, foi usar o brega-móvel, carrinho de supermercado com amplificador e caixas acústicas, usado originalmente para divulgar música brega no Nordeste.

Tucanos culpam o governo federal pela falta de dinheiro. Dizem que eventuais doadores foram ameaçados caso ajudassem o PSDB.

Amigos de Serra contam que ele ficou "mais leve" após ter-se livrado da ideia de ser presidente. Vem daí, talvez, a sua aparente tranquilidade dos últimos dias, quando as pesquisas apontam o favoritismo de Haddad.

Ele repete a sua equipe que tem esperanças de vencer. Se perder, diz que vai submergir para se reinventar.

Conta até piada para quem insiste em especular sobre o seu futuro: "Minha vida sempre foi cheia de altos e baixos. Com tanto sobe e desce, eu aprendi uma coisa: devo estar sempre pronto para ser massagista na Suécia".

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