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Ossadas da ditadura se acumulam sem exames

Parentes de desaparecidos políticos aguardam novas identificações

Desde a abertura de valas clandestinas, em 1990, apenas sete restos mortais foram identificados até hoje

PATRÍCIA BRITTO DE SÃO PAULO

Familiares de desaparecidos políticos da ditadura militar (1964-1985) esperam há mais de três anos por novos resultados dos trabalhos de busca e identificação dos restos mortais de seus parentes.

A última vez que um desaparecido político foi identificado foi em julho de 2009. Era Bergson Gurjão Farias, que lutou na Guerrilha do Araguaia (1972-1975) e teve o corpo localizado em 1996, no cemitério de Xambioá (TO).

Dos cerca de 400 mortos por agentes do regime, segundo levantamento da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos, cerca de 150 foram considerados desaparecidos, pois o corpo nunca foi entregue à família.

Destes, apenas sete foram identificados desde 1990, quando valas clandestinas onde vítimas da ditadura foram enterradas começaram a ser abertas. Antes, outras identificações ocorreram por iniciativa de familiares, mas não há registro de quantas. Segundo ex-militantes, o número não passa de dez.

Dos casos solucionados desde os anos 1990, dois foram encontrados na região do Araguaia e cinco no cemitério Dom Bosco, conhecido como Vala de Perus, em São Paulo.

Hoje 25 ossadas do Araguaia estão em Brasília, à espera de exames por peritos da Polícia Federal para confirmação de identidade. O caso do Araguaia é considerado o mais grave, porque a guerrilha deixou ao menos 62 militantes desaparecidos.

Em São Paulo, também há ossadas aguardando por exames no IML -24 foram exumadas no cemitério de Vila Formosa e seis no cemitério Dom Bosco, em 2010 e 2011.

Além dessas, cerca de mil ossadas extraídas em 1990 da Vala de Perus estão armazenadas no cemitério do Araçá, na região oeste de São Paulo, também à espera de exames.

"É uma tortura permanente", diz Suzana Lisboa, da comissão de familiares. Crimeia Almeida, também familiar, clama para que as Forças Armadas revelem o paradeiro das vítimas. "Se abrissem os arquivos e nos dessem as informações sobre os que foram enterrados nessas valas, os restos mortais poderiam ser entregues à família", diz.

EXPEDIÇÕES

Desde 2010, a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, da Secretaria de Direitos Humanos, trabalhou com peritos do Instituto Nacional de Criminalística, da Polícia Federal, em dezenas de exumações de possíveis desaparecidos políticos.

Até agora, nenhuma resultou em nova identificação. Antes disso, as exumações eram ainda mais esporádicas.

Quando extraídas, as ossadas devem passar por exames antropológicos, que permitem estimar características como idade, estatura e sexo, e de DNA, quando o material genético é comparado com um banco de referência com 185 amostras de familiares.

A comissão especial e o Ministério da Justiça afirmam que a principal dificuldade para identificar as amostras é o estágio avançado de desintegração em que elas são encontradas. As ossadas estariam "porosas, degradadas, extremamente frágeis e, principalmente, com pouca matéria orgânica viável e passível de extração de DNA".

Entretanto, o Ministério da Justiça informou que os peritos forenses da Polícia Federal dispõem de tecnologia avançada e expertise para identificar mesmo as amostras mais degradadas e que os trabalhos não estão parados.

Segundo a pasta, em 2012 foram produzidos seis laudos de DNA e sete laudos antropológicos. Nenhum resultado foi divulgado. "A finalização de um exame por parte da perícia não necessariamente tem como resultado uma identificação", informou o ministério via assessoria.


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