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Elio Gaspari

PT, um partido em busca de um discurso

O comissariado percebeu que precisa trocar de repertório e está atrás de novos personagens

Parte da cúpula do PT se deu conta de que a defesa dos mensaleiros e a hostilidade diante das sentenças do Supremo Tribunal Federal vem custando caro ao partido. Está quebrando a cabeça para organizar um novo repertório, com administradores e ações capazes de construir uma imagem de gestores.

Nessa conta, ruínas como a Infraero são casos perdidos. Trata-se de achar algo novo. Se tudo der certo, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, poderá ajudar o serviço de reconstrução. Falta transformar sua prosa em ação. (Uma das primeiras medidas de sua administração foi interditar as barracas de comércio de uma quadra de escola de samba. Felizmente recuou.)

Suspeita-se que o modelo de marquetagem pelo qual lançam-se projetos em cerimônias no Planalto está esgotado. Com ele, as iniciativas pirotécnicas destinadas a glorificar ministros que são candidatos a governos estaduais.

Se a busca for eficaz, brilharão estrelas de tocadores de projetos que já deram resultados.

Um bom início para essa mudança poderia ser a criação de um limite no tempo que cada comissário gasta falando mal dos outros e, sobretudo, dos meios de comunicação. Algo como 15 minutos por dia. Depois disso, deveriam ser obrigados a contar o que estão fazendo para melhorar o filme.

RISCO-CELEBRIDADE

O ano começou com a constatação de que é grande o risco de tratar empresários como celebridades. Risco maior, só o dos empresários que se fazem tratar como estrelas.

Eike Batista, o símbolo do milionário brasileiro do século 21, fechou o ano com o recorde mundial de perda de patrimônio (em papel): segundo a agência Bloomberg, ele vale US$ 10 bilhões menos do que valia no início de 2012.

Na outra ponta está Jorge Paulo Lemann, com seu proverbial horror à publicidade. O valor de mercado da Ambev cresceu 40,9%, chegando a US$ 129 bilhões.

CARVILLE, O SÁBIO

Os marqueses da oposição acreditam que os buracos dos aeroportos e das estradas serão um tema decisivo na eleição de 2014.

Por mais que esses serviços estejam em mau estado, vale lembrar que na campanha eleitoral de 1992 o marqueteiro James Carville, autor da frase "é a economia, estúpido", proibiu Bill Clinton de usar a palavra "infraestrutura".

INJUSTIÇA

Na semana passada, no texto onde se contava a história do recrutamento de órfãos cariocas nos anos 30 para a fazenda Cruzeiro do Sul, deixou a impressão de que o elegante Celso da Rocha Miranda tivesse algo a ver com aquilo.

A fazenda pertencia a Luis Rocha Miranda. Celso vivia no Rio de Janeiro e com sua mulher, Malu, encantava quem o conhecia. Lamentavelmente, por culpa do signatário, a referência às suas virtudes acabou, injustamente, metendo-o num mau momento de sua parentela.

EM TEMPO

Referindo-se ao trabalho, Arndt Krupp não disse que "era disso que eu precisava", mas o contrário: "Essa seria a última coisa de que eu precisava".

TURING, UM GÊNIO OFUSCADO PELO FOLCLORE

A editora da Universidade de Oxford acaba de publicar "Turing: Pioneer of the Information Age" (Turing: O Pioneiro da Era da Informação). É um bom livro, contando a história de um gênio que viveu num mundo emocionante e morreu num enredo de romance policial em 1954, aos 41 anos. Está na rede, em inglês, por R$ 23,63.

Em 1936, Alan Turing concebeu aquilo que chamou de "máquina universal". Era a ideia do computador, inicialmente chamado de "cérebro eletrônico".

Matemático genial, se não tivesse feito mais nada seria celebrado como um dos pais da vida moderna. Com o início da guerra, incorporou-se à tropa de ingleses que se dedicava a quebrar os códigos alemães. Era uma comunidade que trabalhava em segredo, na qual se juntavam físicos, engenheiros, malucos, militares e campeões de xadrez.

Seus 2.000 servidores não puderam contar o que faziam nem para a família. Nos anos 70, quando o véu foi levantado, algumas mulheres queixaram-se por não terem revelado o segredo aos maridos, que haviam morrido.

Turing foi decisivo para desvendar o código dos submarinos alemães que afundavam os comboios ingleses. Decifravam 84 mil mensagens a cada mês, influíram no resultado da batalha de El Alamein e na de Kursk, ajudando os russos.

Suspeita-se que Turing tenha colaborado na quebra dos códigos japoneses antes da batalha do Midway. Alguns historiadores estimam que esse trabalho encurtou a duração da Segunda Guerra em até dois anos. Exagero, a guerra terminaria em agosto de 1945, com uma bomba atômica caindo em Berlim.

Nesse mundo excêntrico, Turing conseguia ser esquisito. Com o tempo, atribuíram-lhe também a concepção do Colossus, o avô do computador que grampeava até as comunicações de ADOLPH9HITLER9FUEHRER (o "9" significava espaço na mensagem decifrada) e ajudou o sucesso do Dia D.

Para administradores, uma aula: quando faltaram recursos, um deles levou uma carta a Churchill. Não podia dizer aos secretários dele o que fazia nem o que queria. A carta chegou a sir Winston, e ele escreveu: "Ação. Para hoje."

Jack Copeland, o autor do livro é de longe o pesquisador que melhor estudou o trabalho dos criptógrafos ingleses e a vida de Turing. O Colossus não foi coisa dele e suas excentricidades acabaram abafando o gênio. Vestia-se mal, não falava, raramente ouvia e corria 30 quilômetros. Era tudo isso e mais homossexual, numa época que criminalizava essa preferência. Turing teve uma namorada, caso rápido.

O livro tem longos trechos onde Copeland explica as ideias e o trabalho do gênio. Dão trabalho, mas, com paciência, podem se tornar aulas fascinantes.

O fim da história é mais ou menos conhecido. Sua casa foi assaltada, ele foi à polícia e deu queixa. Como não mentia, contou que dormira com um rapaz. Foi processado por indecência. A Justiça mandou que escolhesse: cadeia ou tratamento hormonal castrativo. Dois anos depois, Turing foi encontrado morto em sua cama. Ao lado tinha uma maçã na qual teria injetado cianeto. Nessa época, estudava o crescimento dos tecidos vivos. Ele jamais falou da quebra dos códigos.

Diz a lenda que a maçã mordida teria inspirado a marca da Apple. É apenas lenda. Com bons argumentos, Copeland vai além: não se pode afirmar que Turing se matou. A maçã nunca foi examinada e ele fazia experiências em casa com cianeto. (Outro biógrafo sustenta que ele disfarçou o suicídio deliberadamente.)

Turing tornou-se um ícone da comunidade gay mundial. Em 2009, o primeiro-ministro Gordon Brown desculpou-se pelo sofrimento que lhe foi imposto e o companheiro Obama saudou-o como um dos grandes gênios do século 20. Atualmente corre na Inglaterra uma campanha para que o governo apague a condenação que lhe foi imposta. Nela está o físico Stephen Hawking.


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