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Presidente pavio curto

Broncas frequentes de Dilma introduzem tensão na relação com ministros e colaboradores

VERA MAGALHÃES
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

Quem tem medo de Dilma Rousseff? A julgar pelos relatos do dia a dia na Esplanada dos Ministérios, a resposta é simples: todo mundo.
A Folha ouviu ministros, assessores e parlamentares sobre as famosas broncas da presidente. A conclusão é que ninguém está imune a elas -nem os "queridinhos" de Dilma, como Gilberto Carvalho (Secretaria Geral) e Guido Mantega (Fazenda).
A lista de fatores que provocam a ira da presidente vai do desconhecimento dos assuntos de governo a tentativas de enrolá-la ou dar palpites sobre áreas dos colegas.
Alguns ministros se abalam emocionalmente com os pitos. Duas ajudantes de ordem e uma secretária da Presidência pediram demissão.
Anderson Dorneles, assessor pessoal que é tratado como se fosse um filho e acompanha Dilma há mais de 20 anos, já ameaçou duas vezes ir embora do governo.
Alguns assessores evitam levar problemas a Dilma por temer o mau humor presidencial. "Tem gente que nem decide nem submete a ela, com medo da bronca", resume um ministro, que, assim como os demais ouvidos pela Folha, falou em caráter reservado.
Outra senha para a gritaria é alguém tentar levar um "contrabando" para uma reunião. "Ela conhece o governo, sabe os caminhos da burocracia. Não dá para enrolá-la", sentencia outro auxiliar.

DILMA X LULA
Aqueles que permaneceram da gestão Lula dizem que o ex-presidente também dava broncas, mas elas eram "genéricas" e "no plural".
Com Dilma a coisa é pessoal, olho no olho, em público e quase sempre aos gritos.
Os alvos preferenciais são os ministros mais próximos: os palacianos e os que participam da coordenação de governo. Paradoxalmente, aqueles de quem ela não gosta escapam quase ilesos, porque raramente são recebidos.
Quando o tempo fecha, a presidente cruza os braços, põe as mãos sob as axilas, inclina a cabeça de lado e mira alguém. "O cara sabe na hora que vai para o pelourinho", descreve uma testemunha.
O bordão "meu querido" é outro sinal de encrenca.
Um traço de estilo que tensiona o ambiente é que Dilma não faz confraternizações. Aboliu a Festa Junina na Granja do Torto e as rodadas de prosa regadas a uísque que Lula promovia nas viagens.
"Se, numa viagem, ela convoca um café, é sempre para trabalhar", descreve quem já integrou algumas comitivas.
Apesar do temor, os assessores veem o estilo ríspido como demonstração de que ela está "investida da função" e "leva o cargo a sério".
"Chega a ser engraçado, porque, com a bronca, vem sempre uma ironia. Mas só quando não é com você", resume uma de suas vítimas.

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