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Omissões marcam livros usados em escolas militares

Autores atribuem golpe de 64 a ação de 'moderados' e não mencionam mortes

Currículos adotados em escolas das Forças Armadas podem ser alvo de recomendações da Comissão da Verdade

JULIANA DAL PIVA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO LEONARDO VIEIRA COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Livros didáticos usados para ensinar a história do Brasil nas escolas militares do país omitem informações essenciais para a compreensão de alguns episódios da ditadura militar (1964-1985).

Ao narrar a "revolução de 1964", um dos volumes da coleção Marechal Trompowsky afirma que o golpe foi promovido por "grupos moderados e respeitadores da lei".

O livro diz que o Congresso declarou a Presidência da República vaga antes de eleger o general Castello Branco presidente, logo após o golpe, mas omite o fato de que o presidente deposto João Goulart ainda estava no país.

Outro livro, "500 anos de História do Brasil", diz que a Guerrilha do Araguaia (1972-1975) terminou após "a fuga dos líderes", sem fazer referência às mortes e ao desaparecimento dos guerrilheiros encontrados pelo Exército.

Existem 12 escolas militares no país. Elas oferecem vagas do 6º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio e têm hoje 14 mil alunos matriculados, muitos deles filhos de militares.

O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Cláudio Fonteles, afirmou que os livros poderão ser alvo de recomendações da comissão, criada para investigar violações contra direitos humanos ocorridas especialmente durante a ditadura.

"Esse é um tema propício a ser tratado nas recomendações", disse. "É preciso respeitar a autonomia [das escolas militares], mas não se pode fugir completamente ao programa adotado nas outras escolas públicas e privadas."

Para o professor de história da UFRJ Carlos Fico, o governo deveria promover uma reforma geral nos currículos militares. "Não sabemos como funcionam as escolas para oficiais", diz. "Não é uma questão militar. Diz respeito à segurança da sociedade."

A Associação Nacional de História pretende pedir ao Ministério da Educação e ao Ministério da Defesa que avaliem os livros adotados nas escolas militares.

OUTRO LADO

Em nota, o Ministério da Educação afirmou que não pode interferir no currículo das escolas militares. O Ministério da Defesa informou, por sua vez, que só acompanha o conteúdo pedagógico das instituições destinadas à formação de oficiais e praças das Forças Armadas.

Responsável pelas publicações da coleção Marechal Trompowsky, o general José Carlos dos Santos, comandante da Diretoria de Ensino Preparatório Assistencial do Exército (DEPA), não quis se manifestar sobre o tema e sugeriu que eventuais questionamentos fossem dirigidos à assessoria do Exército.

Em nota, o Exército informou que foram necessários três anos de pesquisas para produzir a coleção e disse que ela é atualizada anualmente pelos autores, mas evitou discutir questões específicas.


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