São Paulo, sábado, 01 de janeiro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Lula mantém Battisti e abre crise com Itália

Governo Berlusconi convoca embaixador em ato de protesto contra a decisão de negar extradição de terrorista

No último dia de seu governo, Lula alegou que militante italiano pode sofrer perseguição política se extraditado

SIMONE IGLESIAS
FELIPE SELIGMAN
LUCAS FERRAZ
DE BRASÍLIA

No último dia de seu governo, o presidente Lula negou a extradição do terrorista italiano Cesare Battisti e abriu uma nova crise diplomática com a Itália.
Ao anunciar que Battisti ficará no Brasil com o status de imigrante, e não como refugiado ou asilado, o presidente argumentou que o italiano, caso volte ao seu país, poderá sofrer perseguição por "opinião política, condição social ou pessoal".
O ato causou revolta na Itália. O embaixador italiano em Brasília, Gherardo La Francesca, foi convocado a Roma para tratar do caso. Na linguagem diplomática, a convocação é considerada um ato de protesto.
O advogado que representa o governo italiano, Nabor Bulhões, afirmou que o presidente Lula cometeu "crime de responsabilidade" ao manter o italiano no Brasil. "Ele descumpriu leis e decisões judiciais, por isso o ato foi praticado no apagar das luzes do governo", disse.
Já o advogado de Battisti, Luís Roberto Barroso, afirmou que Lula manteve a "tradição humanista e sua altivez diante de pressões feitas em tom inapropriado pelo governo italiano".
Preso no Brasil desde 2007, Battisti foi condenado à prisão perpétua em seu país por quatro homicídios ocorridos entre 1978 e 1979. Membro de grupo de extrema esquerda, ele nega e diz ser perseguido político.
Lula demorou 13 meses para decidir. Em novembro de 2009 o STF negou o refúgio, autorizando a extradição, mas deu a última palavra ao presidente.
A decisão de Lula foi embasada num parecer da AGU (Advocacia Geral da União) que defendeu a permanência de Cesare Battisti. "Há ponderáveis razões para supor que o extraditando seja submetido a agravamento de sua situação, por motivo de condição pessoal, dado seu passado, marcado por atividade política", diz o documento.
Antes mesmo de o Planalto divulgar a decisão, o governo do primeiro-ministro Silvio Berlusconi soltou nota dizendo considerar "inaceitável e incompreensível" a decisão de Lula e que ele deveria se explicar aos italianos e às famílias das vítimas.
Na mesma nota em que anunciou a decisão, o Planalto respondeu: "O governo brasileiro manifesta sua profunda estranheza com os termos da nota (...), em particular com a impertinente referência pessoal ao Presidente da República."

FOLHA.com
Leia a nota da Presidência na íntegra
folha.com.br/103652


Texto Anterior: Dilma quer resposta sobre desaparecidos
Próximo Texto: Parecer
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.