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OPINIÃO
Serra transforma a escolha em processo de autofagia cibernética
JOSIAS DE SOUZA
DE BRASÍLIA
O político profissional não
tem medo do escuro. Receia
mesmo é a claridade. José
Serra subverteu a ordem.
Envolto em atmosfera de
volúpia e traição, o presidenciável tucano converteu a escolha de seu vice num striptease autofágico.
Atônita, a plateia descobriu no imenso telhado de vidro da coligação pró-Serra
um inusitado posto de observação.
Até a semana passada, a
situação era a seguinte: metade do DEM estava nervosa
porque Serra dizia que não tinha um vice e o aliado achava que ele estava mentindo.
A outra metade do DEM estava nervosa porque Serra dizia que não tinha escolhido o
vice e imaginava-se que ele
não tinha mesmo um nome.
E Serra estava nervoso
porque não sabia se dizia que
tinha o vice que ainda não escolhera ou se escolhia o vice
e não dizia. E vice-versa.
Súbito, o nome do tucano
Álvaro Dias veio à luz do modo mais inusitado: uma nota
no microblog do presidente
do PTB, o deputado cassado
Roberto Jefferson (RJ).
CORNO CIBERNÉTICO
Súbito, o DEM, aliado de
todas as horas, tornou-se,
por assim dizer, um corno cibernético. Reagiu à impudência com alarde.
Com a alcova sob holofotes, Serra portou-se com inocência inaudita. Imaginou
que o DEM aceitaria o papel
de mulher traída que evita
um rompimento em nome da
integridade da família.
Esqueceu-se de que lidava
com uma sigla que assumiu o
poder logo após as caravelas
de Pedro Álvares Cabral
aportarem em Porto Seguro.
Lançado à oposição por
Lula, o DEM (ex-Arena, ex-Frente Liberal e ex-PFL) perdeu prestígio e votos. Mas
manteve relativa unidade.
Comparado ao PSDB, uma
agremiação de amigos integralmente composta de inimigos, o DEM é um partido
razoavelmente coerente.
Suas posições costumam
ser conhecidas antes que os
filiados levantem o braço numa convenção como a que se
realizou ontem, em Brasília.
O DEM avisara há dois meses: sem Aécio Neves, o vice
de Serra deveria ser preferencialmente de seus quadros.
Dono de estilo "indiocentrista", Serra imaginou-se capaz de trafegar pela selva de
sua coligação com distanciamento de antropólogo.
No Big Brother do tucanato, os morubixabas do DEM
levaram Serra não ao paredão, mas ao caldeirão. Obrigaram-no a regurgitar Álvaro
Dias e atravessaram-lhe Indio da Costa na traqueia.
De erro em erro, Serra virou uma espécie de bispo
Sardinha da era da internet.
Em autofagia pública, foi
mastigado pelos caetés do
DEM à luz do twitter.
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