São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2010

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Receita diz a Lula que advogado deu propina a servidora

Planalto usa tese da venda de dados para negar que quebra de sigilo de tucanos tenha conotação política

Sindicância do fisco diz que Mauá era o ponto de venda; para o governo, investigação isentaria PT de responsabilidade

KENNEDY ALENCAR
DE BRASÍLIA

A Corregedoria da Receita Federal em São Paulo identificou que servidoras do órgão em Mauá investigadas sob a acusação de participar de um esquema de violação de dados fiscais de pessoas ligadas ao PSDB tinham como intermediário um grupo formado por um despachante, um contador e um advogado.
Parte dessa investigação foi relatada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Folha apurou que a Receita informou a Lula que um advogado ofereceu propina a uma servidora da agência de Mauá para quebra de sigilo.
A corregedoria já teria até os valores envolvidos, em torno de algumas centenas de reais por documento impresso. Ao todo, a comissão de inquérito encarregada do caso listou 320 acessos a dados feitos a partir dos computadores das quatro servidoras investigadas.
Para a corregedoria, a quebra do sigilo de contribuintes indica um esquema de venda de dados fiscais.

GOVERNO
O Palácio do Planalto usa essa conclusão para sustentar que não houve uma quebra de sigilo encomendada pelo PT a fim de atingir pessoas ligadas a José Serra.
De acordo com essa versão, houve venda de sigilo para agentes privados interessados em levar segredos fiscais ao mercado político.
A preocupação é desvincular o PT da autoria ou do mando da quebra de sigilo, o que, se confirmado, prejudicaria a candidatura presidencial de Dilma Rousseff.
Dois auxiliares diretos de Lula sustentam que, de acordo com essa linha de investigação, se houve intenção de uso político na quebra, deve ser atribuída a uma disputa no PSDB entre Serra e Aécio Neves (MG), que disputavam a candidatura presidencial.
Segundo a versão do Palácio do Planalto, o repórter Amaury Ribeiro, que viria a ser contratado pela pré-campanha de Dilma, era funcionário do jornal "O Estado de Minas" quando ocorreu a violação dos sigilos que resultaram no dossiê contra tucanos ligados a Serra.
Esses dois auxiliares de Lula sustentam que o "erro político" do PT teria sido levar fatos apurados por Ribeiro para dentro da pré-campanha de Dilma. E ambos debitam esse erro na conta de Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte, que teria tentado montar uma estrutura paralela na campanha.
Amaury Ribeiro afirma que não obteve dados ilegais. Pimentel nega ter elaborado dossiê contra Serra. Dilma nega ter feito qualquer pedido ou recebido dossiê, e, por pressão de Lula, afastou Pimentel da coordenação.


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