São Paulo, quinta-feira, 01 de setembro de 2011

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ANÁLISE TAXA DE JUROS

Juro despencava no mercado desde julho

BC será criticado por "falta de autonomia", mas finança também previa piora grave na economia mundial

VINICIUS TORRES FREIRE
COLUNISTA DA FOLHA

Hoje será dia da divulgação de notas de falecimento da autonomia do Banco Central e de diagnósticos sobre o enlouquecimento de seus diretores. O motivo, claro, terá sido a decisão do BC de baixar a taxa "básica" de juros de 12,5% para 12%, como que atendendo a pedido quase explícito de Dilma Rousseff.
Para juntar insulto à injúria, o talho nos juros ocorre quando a inflação ainda anda pela casa dos 7% anuais.
Mas, antes de assistir ao teatro das reações estereotipadas, é preciso prestar atenção a uns fatos da vida.
Primeiro, lembre-se que a taxa "básica" de juros futuros no mercado começou a desabar no início de agosto.
Em termos reais, descontada a inflação, caiu de 6,9% no final de julho para 5,9% em 19 de agosto. Ontem, estava em 5,5%. No pico da campanha de juros do BC, fora a 7,2% (início de julho).
O que houve no início de agosto? O tumulto da dívida dos EUA. Medo de calote de governos e quebra de bancos na Europa. Histeria no mercado financeiro. Ficou claro que a economia do mundo rico voltaria ao vinagre.
O mercado ajusta sua taxa "básica" com um olho na economia real e outro na política de juros do BC.
Em agosto, o governo começou a falar em novo "mix" de política econômica para enfrentar a crise mundial rediviva: menos gasto ajudaria o BC a reduzir juros; o BC insinuou ter gostado da ideia.
No mundo rico, ficou claro que não haveria gasto público adicional para estimular economias em quase coma. A recaída recessiva mundial bateria no Brasil, que também cresceria menos e, assim, teria menos inflação.
Logo, a tendência dos juros seria, em tese, de queda. O BC usou ontem esse argumento para justificar o corte dos juros. Mas o mercado vinha na mesma toada.
Segundo, note-se que, se o BC está louco, não é de agora. Desde o início do ano diz que a fraqueza da economia mundial levaria preços importantes para baixo, como os de commodities (petróleo, comida, minérios). Nessa campanha de alta de juros, forçou bem menos a mão que a diretoria do BC anterior, nas altas de 2008.
O Banco Central está certo? A prova do pudim será comê-lo. Pela nota divulgada ontem, o BC pinta um quadro muito ruim para a economia mundial e, mais importante, acha que o Brasil será contaminado de modo relevante, o que não é consensual.
Antes mesmo do corte de ontem, BC e mercado já divergiam sobre a inflação. Com Selic a 12,5%, o BC previa inflação de 4,8% em abril de 2012. O pessoal mais certeiro do mercado previa pelo menos 5,6%.
Pode ser que dê errado. Ainda assim, não haverá "descontrole inflacionário". Enfim, os problemas econômicos do Brasil estão muito além de meio ponto para cá ou para lá na taxa de juros.


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