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Longe da crise , economia exigirá ajustes
Situação herdada por Dilma é bem menos confortável que cenário que o petista herdou dele mesmo há 4 anos
Aumento da renda deve ser menor em 2011, e inflação pode crescer; crise nos EUA ameaça exportação e emprego
GUSTAVO PATU
DE BRASÍLIA
A herança econômica que
Luiz Inácio Lula da Silva deixará para sua sucessora está
longe do cenário de crise de
oito anos atrás, quando foi
eleito pela primeira vez. É
muito menos confortável,
porém, que a deixada por Lula para si próprio do primeiro
para o segundo mandato.
Ao contrário de seu padrinho político, Dilma Rousseff
começará com dívida pública relativamente baixa e reservas em dólar absolutamente fartas -ou sobra de
crédito interno e externo para o governo e o país.
Após quatro anos de ajustes e a ajuda da conjuntura
internacional mais favorável
em 30 anos, a primeira gestão petista fez a arrecadação
tributária crescer mais que as
despesas, reduziu a inflação
e contabilizou um superavit
recorde nas transações do
Brasil com o resto do mundo.
Nos quatro anos seguintes, com a retomada da expansão acelerada da renda,
os gastos públicos subiram
mais que as receitas, a inflação superou as metas do BC e
o país agora acumula deficits
crescentes com o exterior.
A bonança da economia
global ficou para trás. E, se
não prejudica o crescimento
brasileiro deste ano, a crise
norte-americana radicalizou
a valorização do real em relação ao dólar, o que ameaça
exportação, indústria e emprego. Medidas para deter o
efeito colateral já estão em
curso -sem grande sucesso.
Embora não haja nada parecido com recessão no horizonte, é consenso que a renda não repetirá em 2011 a expansão de 7,6% projetada
para este ano. O governo, otimista por obrigação, fala em
5,5%; o mercado, conservador por natureza, em 4,5%.
São cifras protocolares,
pois nem um nem outro consegue estimar a variação do
PIB com tanta antecedência.
Os demais indicadores, mais
previsíveis, indicam os limites de um crescimento baseado em consumo, sem desempenho igualmente exuberante dos investimentos públicos e privados necessários
para expandir a produção.
Antes de assumir, Dilma
terá de se preocupar com a
votação de um Orçamento
suspeito de conter receitas
superestimadas e despesas,
subestimadas. Terá ainda de
administrar pressões por um
reajuste generoso do salário
mínimo que vigorará a partir
do mesmo 1º de janeiro em
que receberá a faixa de Lula.
Desde 2009, o governo não
consegue cumprir metas de
superavit primário (parcela
da receita poupada para abater a dívida pública), que são
a base da política fiscal desde
o final da década passada. A
alta das despesas permanentes, especialmente as sociais,
tira espaço orçamentário dos
investimentos e alimenta as
expectativas de inflação.
Neste ano e no próximo, os
preços deverão subir acima
dos 4,5%, o que deverá fazer
o BC elevar juros para conter
as compras das famílias e reduzir o descompasso entre o
consumo e a produção.
A escalada inflacionária só
não é mais aguda porque o
dólar no chão barateia os
produtos importados.
Mas o câmbio também derruba rapidamente a balança
comercial -e, a menos que
se consiga deter a valorização do real, a saída será, mais
uma vez, interromper o crescimento da economia.
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