São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2010

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Longe da crise , economia exigirá ajustes

Situação herdada por Dilma é bem menos confortável que cenário que o petista herdou dele mesmo há 4 anos

Aumento da renda deve ser menor em 2011, e inflação pode crescer; crise nos EUA ameaça exportação e emprego

GUSTAVO PATU
DE BRASÍLIA

A herança econômica que Luiz Inácio Lula da Silva deixará para sua sucessora está longe do cenário de crise de oito anos atrás, quando foi eleito pela primeira vez. É muito menos confortável, porém, que a deixada por Lula para si próprio do primeiro para o segundo mandato.
Ao contrário de seu padrinho político, Dilma Rousseff começará com dívida pública relativamente baixa e reservas em dólar absolutamente fartas -ou sobra de crédito interno e externo para o governo e o país.
Após quatro anos de ajustes e a ajuda da conjuntura internacional mais favorável em 30 anos, a primeira gestão petista fez a arrecadação tributária crescer mais que as despesas, reduziu a inflação e contabilizou um superavit recorde nas transações do Brasil com o resto do mundo.
Nos quatro anos seguintes, com a retomada da expansão acelerada da renda, os gastos públicos subiram mais que as receitas, a inflação superou as metas do BC e o país agora acumula deficits crescentes com o exterior.
A bonança da economia global ficou para trás. E, se não prejudica o crescimento brasileiro deste ano, a crise norte-americana radicalizou a valorização do real em relação ao dólar, o que ameaça exportação, indústria e emprego. Medidas para deter o efeito colateral já estão em curso -sem grande sucesso.
Embora não haja nada parecido com recessão no horizonte, é consenso que a renda não repetirá em 2011 a expansão de 7,6% projetada para este ano. O governo, otimista por obrigação, fala em 5,5%; o mercado, conservador por natureza, em 4,5%.
São cifras protocolares, pois nem um nem outro consegue estimar a variação do PIB com tanta antecedência. Os demais indicadores, mais previsíveis, indicam os limites de um crescimento baseado em consumo, sem desempenho igualmente exuberante dos investimentos públicos e privados necessários para expandir a produção.
Antes de assumir, Dilma terá de se preocupar com a votação de um Orçamento suspeito de conter receitas superestimadas e despesas, subestimadas. Terá ainda de administrar pressões por um reajuste generoso do salário mínimo que vigorará a partir do mesmo 1º de janeiro em que receberá a faixa de Lula.
Desde 2009, o governo não consegue cumprir metas de superavit primário (parcela da receita poupada para abater a dívida pública), que são a base da política fiscal desde o final da década passada. A alta das despesas permanentes, especialmente as sociais, tira espaço orçamentário dos investimentos e alimenta as expectativas de inflação.
Neste ano e no próximo, os preços deverão subir acima dos 4,5%, o que deverá fazer o BC elevar juros para conter as compras das famílias e reduzir o descompasso entre o consumo e a produção.
A escalada inflacionária só não é mais aguda porque o dólar no chão barateia os produtos importados.
Mas o câmbio também derruba rapidamente a balança comercial -e, a menos que se consiga deter a valorização do real, a saída será, mais uma vez, interromper o crescimento da economia.


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