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Serra diz que "luta de verdade" está só no começo e descarta "adeus"
Candidato afirma que aliados "cavaram uma grande trincheira, construíram uma fortaleza"
Campanha tucana foi marcada por desunião entre aliados, o que acentuou o estilo centralizador de Serra
CATIA SEABRA
BRENO COSTA
DANIELA LIMA
DE SÃO PAULO
No discurso de reconhecimento da derrota, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, afirmou ontem que
está "apenas começando
uma luta de verdade".
"Por isso, a minha mensagem de despedida nesse momento não é um adeus, mas
um até logo", discursou o tucano, ao lado de aliados como o governador eleito de
São Paulo, Geraldo Alckmin,
mas sem a presença do senador eleito Aécio Neves nem
do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso.
O tucano não escondeu a
decepção com seu desempenho em Minas Gerais, Estado
em que perdeu para Dilma
Rousseff (PT) por uma diferença de quase dois milhões
de votos. Serra nem sequer
citou Aécio em seu discurso,
no qual exaltou o "empenho" de Alckmin.
"Recebemos votos que elegeram dez governadores.
Dos quais, um está presente.
Um companheiro de muitas
jornadas, Geraldo Alkcmin.
Ele se empenhou na minha
eleição mais do que na dele",
frisou Serra.
TRINCHEIRA
O candidato deixou claro
que tentará manter o papel
de principal líder da oposição no Brasil. "Nesses meses,
quando enfrentaram forças
terríveis, vocês alcançaram
uma vitória estratégica, cavaram uma grande trincheira, construíram uma fortaleza", discursou.
"Disputei com muito orgulho a Presidência da República. Quis o povo que não fosse
agora. Mas digo que sou muito grato aos 43,6 milhões de
brasileiros que votaram em
mim", agradeceu o tucano.
Segundo aliados, Serra
sentiu-se vitaminado pela
votação que obteve. No almoço, já havia dito que, qualquer que fosse o resultado, se
sentiria vitorioso.
Serra - que ameaçou romper com Aécio ao longo da
campanha - falou em briga
pela democracia e encerrou
seu discurso com o bordão
petista: "A luta continua".
O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, minimizou as declarações de Serra.
Para Guerra, Serra citou
Alckmin porque era o único
governador eleito presente
no evento.
"Ele não excluiu Aécio. Ele
não citou tantos outros que
se elegeram Brasil afora. Não
faltou empenho [em Minas].
Eu vi a campanha. Foi dura",
afirmou Guerra.
ATRITOS NA CAMPANHA
O discurso do tucano ontem à noite foi apenas o ponto mais visível de uma desconfiança histórica de Serra
em relação a seus aliados,
que acabou acentuada pela
ausência da sua imagem em
panfletos e programas eleitorais país afora.
Nas viagens a Minas, Aécio disparava nas caminhadas, mal emparelhando com
Serra, e sempre pedia para
deixar as atividades antes do
fim. "Só posso ficar 20 minutos", alegava, usando os tradicionais atrasos de Serra como argumento para a pressa.
Os percalços do primeiro
turno já tinham acirrado sua
natural desconfiança em relação aos aliados. Sentindo-se abandonado, sem um padrinho do porte do presidente Lula, nem um partido com
a musculatura do PT, Serra
retraiu-se e conduziu uma
campanha solitária.
Embora tenha delegado
poderes a um núcleo de aliados, assumiu o controle de
tarefas cotidianas, incluída a
agenda de viagens. E deixava
sempre as decisões para a última hora. "Só penso no meu
dia na véspera", repetia.
GONZALES
Um dos poucos ouvidos
por Serra, durante toda a
campanha, foi sempre Luiz
Gonzales, responsável pelo
marketing de sua campanha.
Foi ele que, em fevereiro,
quando Serra ainda era governador de São Paulo, apresentou um roteiro de 50 pontos para a campanha.
Entre
eles, destacavam-se: arrancar o rótulo de elitista e não
brigar com a popularidade
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Seduzido pela cordialidade explicitada por Lula em
eventos oficiais, Serra não
imaginava que o presidente
fosse entrar com força total
na campanha para eleger Dilma Rousseff (PT).
A fidelidade de Serra à cartilha de Gonzalez foi alvo de
bombardeio aliado ao longo
de toda a campanha.
Ontem, no dia da votação,
Serra demonstrou alegria pelo fim da maratona eleitoral,
marcada desde o início, por
um clima de disputa entre os
aliados que deviam fazer girar a máquina.
DESUNIÃO
A campanha foi cheia desses exemplos: relegado a
uma pequena sala na sede da
campanha, Sérgio Guerra
alugou uma outra sala a uma
hora dali. Só em São Paulo, o
comitê teve seis endereços.
Essa pulverização custou
caro para uma campanha
que enfrentou dificuldades
de arrecadação. Semana passada, num almoço, integrantes da equipe checavam contas a pagar, inclusive o aluguel de aviões referentes ao
primeiro turno.
Essa desunião e o estilo
centralizador de Serra aumentaram a responsabilidade sobre o candidato. Às vésperas do primeiro turno, a
avaliação era que o ônus de
uma eventual vitória de Dilma já no dia 3 de outubro
penderia todo sobre ele.
FOLHA.com
Leia a íntegra do discurso
de Serra
folha.com.br/po823627
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