São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2010

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Serra diz que "luta de verdade" está só no começo e descarta "adeus"

Candidato afirma que aliados "cavaram uma grande trincheira, construíram uma fortaleza"

Campanha tucana foi marcada por desunião entre aliados, o que acentuou o estilo centralizador de Serra

CATIA SEABRA
BRENO COSTA
DANIELA LIMA

DE SÃO PAULO

No discurso de reconhecimento da derrota, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, afirmou ontem que está "apenas começando uma luta de verdade".
"Por isso, a minha mensagem de despedida nesse momento não é um adeus, mas um até logo", discursou o tucano, ao lado de aliados como o governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, mas sem a presença do senador eleito Aécio Neves nem do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
O tucano não escondeu a decepção com seu desempenho em Minas Gerais, Estado em que perdeu para Dilma Rousseff (PT) por uma diferença de quase dois milhões de votos. Serra nem sequer citou Aécio em seu discurso, no qual exaltou o "empenho" de Alckmin.
"Recebemos votos que elegeram dez governadores.
Dos quais, um está presente.
Um companheiro de muitas jornadas, Geraldo Alkcmin.
Ele se empenhou na minha eleição mais do que na dele", frisou Serra.

TRINCHEIRA
O candidato deixou claro que tentará manter o papel de principal líder da oposição no Brasil. "Nesses meses, quando enfrentaram forças terríveis, vocês alcançaram uma vitória estratégica, cavaram uma grande trincheira, construíram uma fortaleza", discursou.
"Disputei com muito orgulho a Presidência da República. Quis o povo que não fosse agora. Mas digo que sou muito grato aos 43,6 milhões de brasileiros que votaram em mim", agradeceu o tucano.
Segundo aliados, Serra sentiu-se vitaminado pela votação que obteve. No almoço, já havia dito que, qualquer que fosse o resultado, se sentiria vitorioso.
Serra - que ameaçou romper com Aécio ao longo da campanha - falou em briga pela democracia e encerrou seu discurso com o bordão petista: "A luta continua".
O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, minimizou as declarações de Serra.
Para Guerra, Serra citou Alckmin porque era o único governador eleito presente no evento.
"Ele não excluiu Aécio. Ele não citou tantos outros que se elegeram Brasil afora. Não faltou empenho [em Minas].
Eu vi a campanha. Foi dura", afirmou Guerra.

ATRITOS NA CAMPANHA
O discurso do tucano ontem à noite foi apenas o ponto mais visível de uma desconfiança histórica de Serra em relação a seus aliados, que acabou acentuada pela ausência da sua imagem em panfletos e programas eleitorais país afora.
Nas viagens a Minas, Aécio disparava nas caminhadas, mal emparelhando com Serra, e sempre pedia para deixar as atividades antes do fim. "Só posso ficar 20 minutos", alegava, usando os tradicionais atrasos de Serra como argumento para a pressa.
Os percalços do primeiro turno já tinham acirrado sua natural desconfiança em relação aos aliados. Sentindo-se abandonado, sem um padrinho do porte do presidente Lula, nem um partido com a musculatura do PT, Serra retraiu-se e conduziu uma campanha solitária.
Embora tenha delegado poderes a um núcleo de aliados, assumiu o controle de tarefas cotidianas, incluída a agenda de viagens. E deixava sempre as decisões para a última hora. "Só penso no meu dia na véspera", repetia.

GONZALES
Um dos poucos ouvidos por Serra, durante toda a campanha, foi sempre Luiz Gonzales, responsável pelo marketing de sua campanha.
Foi ele que, em fevereiro, quando Serra ainda era governador de São Paulo, apresentou um roteiro de 50 pontos para a campanha.
Entre eles, destacavam-se: arrancar o rótulo de elitista e não brigar com a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Seduzido pela cordialidade explicitada por Lula em eventos oficiais, Serra não imaginava que o presidente fosse entrar com força total na campanha para eleger Dilma Rousseff (PT).
A fidelidade de Serra à cartilha de Gonzalez foi alvo de bombardeio aliado ao longo de toda a campanha.
Ontem, no dia da votação, Serra demonstrou alegria pelo fim da maratona eleitoral, marcada desde o início, por um clima de disputa entre os aliados que deviam fazer girar a máquina.

DESUNIÃO
A campanha foi cheia desses exemplos: relegado a uma pequena sala na sede da campanha, Sérgio Guerra alugou uma outra sala a uma hora dali. Só em São Paulo, o comitê teve seis endereços.
Essa pulverização custou caro para uma campanha que enfrentou dificuldades de arrecadação. Semana passada, num almoço, integrantes da equipe checavam contas a pagar, inclusive o aluguel de aviões referentes ao primeiro turno.
Essa desunião e o estilo centralizador de Serra aumentaram a responsabilidade sobre o candidato. Às vésperas do primeiro turno, a avaliação era que o ônus de uma eventual vitória de Dilma já no dia 3 de outubro penderia todo sobre ele.

FOLHA.com
Leia a íntegra do discurso de Serra
folha.com.br/po823627


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