São Paulo, quarta-feira, 01 de dezembro de 2010

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Telegramas são "insignificantes", diz Lula

Presidente afirma que documentos divulgados pela WikiLeaks sobre o Brasil não "merecem ser levados a sério"

Para Nelson Jobim, da Defesa, críticas feitas a diplomata brasileiro foram "interpretação" do embaixador dos EUA

BRENO COSTA
ENVIADO ESPECIAL A ESTREITO (MA)

LUCAS FERRAZ
DE BRASÍLIA

O presidente Lula minimizou a importância do vazamento de telegramas confidenciais remetidos pela Embaixada dos Estados Unidos em Brasília e chamou os papéis revelados até aqui de "insignificantes".
Já o ministro Nelson Jobim (Defesa), citado em um dos documentos, foi a primeira autoridade brasileira a contradizer o que foi relatado pela diplomacia americana.
"De vez em quando aparecem essas coisas. Acho que coisas que eu vi do Brasil [nos telegramas vazados pela organização WikiLeaks] são tão insignificantes que não merecem ser levadas a sério", disse Lula, depois de visitar obras da Usina Hidrelétrica Estreito, no Maranhão.
O presidente negou ter receio em relação ao que possa vir a ser divulgado: "Se fosse tão sério, [os telegramas] não teriam vazado".
A Folha publica desde segunda lotes de documentos vazados pela WikiLeaks.
Num deles, de janeiro de 2008, há no relato do então embaixador dos EUA em Brasília, Clifford Sobel, uma menção ao então secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, hoje ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos.
Sobel documentou que "Jobim disse que Guimarães "odeia os EUA" e trabalha para criar problemas na relação [entre os dois países]."
Lula buscou desacreditar Sobel, que deixou o posto de embaixador em 2009, e disse ter certeza de que Jobim não falaria mal de Guimarães.
"Não sou obrigado a acreditar num telegrama de um embaixador americano em vez de acreditar no meu ministro, ora. Por que eu tenho que acreditar no americano, que já nem é mais embaixador aqui?"

TELEFONEMA
O próprio ministro da Defesa tratou de pôr panos quentes e negou o relato. Em nota distribuída pelo Ministério da Defesa, Jobim disse ter ligado para Guimarães e informado que o colega americano o interpretou errado. "Se o embaixador disse que Samuel não gosta dos EUA, isso é interpretação do embaixador, não disse isso. Samuel é meu amigo."
Confirmando o encontro citado no documento pelo diplomata americano, o ministro ressaltou que tratou Guimarães como "um nacionalista, um homem que ama profundamente o Brasil".
A Folha tentou falar com Guimarães por e-mail, mas ele não respondeu até o fechamento desta edição.
Em Washington, o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) negou que o Itamaraty seja antiamericano, mas disse que a Embaixada dos EUA no Brasil evita lidar com o órgão porque sabe que ele é "a primeira linha de defesa da soberania nacional".

XEQUE
Citado em correspondência do consulado dos EUA em São Paulo, o xeque Yamani Abdul Nur Muhammad, 33, da Mesquita Islâmica Muçulmana de Londrina (PR), disse que não é antiamericano.
O xeque, que nasceu em Moçambique e está na cidade há sete anos, afirma que, há dois anos, recebeu a visita de um agente dos EUA.
"Não fui hipócrita, disse que gostava do povo americano, disse ainda que Obama, em início de governo, estava sendo mais inteligente que Bush, ouvindo os povos do Oriente Médio. Isso não relataram", afirmou o xeque.


Colaboraram ANDREA MURTA , de Washington, e JOSÉ MASCHIO , de Londrina (PR)


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