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MINHA HISTÓRIA
GERUZA ALVES DE ALMEIDA, 52,
'Tenho medo de morrer'
(...) Estava estendendo roupa e, de repente, escutei tiros: pá, pá, pá (...) deixamos tudo, nossas roupas, a roça, as criações de galinha, pato, tudo
Fábio Guibu/Folhapress
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Lavradora Geruza Alves, que deixou Nova Ipixuna (PA)
RESUMO
A lavradora
Geruza Alves de Almeida,
52, é parente dos líderes
extrativistas José Claudio e
Maria do Espírito Santo,
mortos a tiros há nove
dias. Os três viviam em um
assentamento em Nova
Ipixuna (PA). Após o crime, ela fugiu. Há um ano,
sofre ameaças para que
entregue a um fazendeiro
a terra onde vivia.
(...)Depoimento a
FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A MARABÁ (PA)
No assentamento onde eu
moro, um fazendeiro que se
diz o dono da área quer expulsar três famílias para aumentar as terras dele: a do
Zequinha [José Martins], a do
Tadeu [Francisco Tadeu Vaz
e Silva] e a minha.
Nós somos vizinhos, e desde que cheguei para morar lá
com meu marido e minha neta, há um ano, não tivemos
paz nem sossego.
Logo de cara, esse fazendeiro disse que iria ficar com
a terra e avisou que gostava
de comprar confusão. E a primeira apareceu depois de
quatro meses: um pistoleiro
parou com uma espingarda
em frente de casa. Ficou um
dia inteiro, vigiando não sei o
quê, e depois foi embora.
Dois meses depois, o fazendeiro voltou com cinco
homens vestidos de policiais.
Quatro usavam uniformes
normais, de rua, e um uniforme era camuflado, manchadinho, tipo pele de onça.
Eles procuravam o Zequinha, que não estava por lá.
Então, tocaram fogo no barraco dele. Depois, foram
atrás do Tadeu e do meu marido. Acharam o Tadeu e deram um prazo de duas horas
para ele sair.
Eu estava na casa de outro
vizinho, estendendo roupa, e
de repente escutei tiros: pá,
pá, pá. Corri para o barraco
do Tadeu e o pessoal disse
que tinham atirado no meu
marido, o Marabá [Edvaldo
Ribeiro da Silva], mas que ele
havia corrido para o mato.
Voltei para casa e logo eles
chegaram. Perguntaram pelo
Marabá. Disse que não sabia
onde ele estava. Eles então
ameaçaram tocar fogo em tudo se nós não saíssemos.
Eu comecei a chorar, pedindo pelo amor de Deus para que não fizessem isso. Um
deles falou depois que não
fariam nada, porque o Marabá era parente do [líder extrativista] Zé Claudio.
Dois pistoleiros ficaram na
casa do Tadeu, tomando conta do lugar. Eles passavam
dia e noite em frente ao mandiocal. Quando escurecia,
acendiam uma fogueira.
O Tadeu, que tinha prometido sair, falou do caso com a
Maria [mulher de Zé Claudio]
e ela mandou ele voltar.
No dia em que Tadeu receberia R$ 2.000 para entregar
a terra, ele disse ao fazendeiro que não queria o dinheiro,
porque não ia mais sair.
O povo fez um mutirão para reconstruir a casa do Zequinha, e ele e o Tadeu continuam morando lá. Mas, com
a morte do Zé Claudio e da
Maria, eu me senti mais pressionada. A nossa família decidiu sair. Deixamos tudo,
nossas roupas, a roça, as
criações de galinha, tudo.
Eu quero voltar, porque o
assentamento é o único lugar
que tenho para morar. Nasci
em Linhares (ES) e vim para o
Pará com 20 anos. Troquei o
emprego de cozinheira para
viver da terra.
Mas o bandido que matou
os dois está solto. Meu medo
é que o assassino mate a gente também. Meu barraco é
bem fraquinho, feito de tronco de açaí. Qualquer um vai
lá e derruba.
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