São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PRESIDENTE 40 ELEIÇÕES 2010

Não sabia que era filha do Serra, diz contador

Antônio Atella afirma que atendeu a pedido de cliente "inescrupuloso" do qual não se lembra

"Sou um office-boy de luxo", diz o autor do pedido de quebra de sigilo, que nega haver motivação política

SILVIO NAVARRO
DE SÃO PAULO

LEONARDO SOUZA
DE BRASÍLIA

Autor do pedido de quebra de sigilo do Imposto de Renda de Veronica Serra, filha do candidato José Serra (PSDB), o contador Antônio Carlos Atella, 62, diz que atendeu a "um cliente", alguém "inescrupuloso", de cujo nome diz não se lembrar. Ele nega ter agido a mando político.
"Não sabia que era a filha do Serra, sou eleitor dele."
Atella falou com a Folha, por telefone, três vezes ontem. Pediu dinheiro para se deixar fotografar -o que foi negado- e usou tom de deboche diversas vezes: "Sou um office-boy de luxo". Leia trechos das entrevistas.

 

Folha - O senhor foi procurador da Veronica Serra?
Antônio Atella -
Pois é... Estamos dando risada. É uma brincadeira de mau gosto.

Mas o senhor assinou .
Assinei e retirei o documento, mas não assinei como quem pediu.

Não foi o procurador?
Na verdade, não sei se fui ou não. Como trabalho para advogados e tal, os motoboys me entregam. Pediu, estou tirando. Se pedir de quem quiser eu tiro, e a Receita tem que entregar. A Receita não é nem culpada. A funcionária pega uma solicitação e tem que cumprir o ato administrativo.

Quem pediu a da Veronica Serra?
Um cliente. Não sei quem é, algum advogado.

Não lembra quem lhe entregou o papel?
Não lembro. Tenho 42 anos de profissão, tenho clientes de todos os lados, não vou lembrar um caso, o cafezinho que tomei lá atrás, faço de 15 a 20 por dia.

Como é o trabalho?
O advogado me manda a procuração, eu vou lá e retiro o documento. Sou um office-boy de luxo.

Tem ligação, é filiado a algum partido?
Não. Tenho nojo de política. Mas voto no Serra, sou eleitor dele. Agora vou querer ser vereador [risos].

Em Rondônia há processos contra o senhor.
Não sou obrigado a responder. Sou advogado.

Teve quatro CPFs?
Tinha, mas pedi para o delegado da Receita suspender com uma carta de próprio punho e ele deferiu.

Mas por que tantos?
Por um direito de qualquer cidadão.

Conhece funcionários da Receita?
Conheço todo mundo, inclusive o [Guido] Mantega [ministro da Fazenda], que tem sítio vizinho ao meu em São Roque [SP].

Já falou com ele?
Não tive o desprazer, não gosto de política.

Conhece o pessoal da agência da Receita em Mauá?
Conheço no Brasil inteiro. Trabalho na área.

Vou insistir: conhece os funcionários de Mauá?
Posso dizer que conheço até o porteiro.

Conhece as servidoras Antonia Aparecida dos Santos e Adeildda dos Santos?
Não conheço ninguém pessoalmente.


Texto Anterior: Janio de Freitas: Silêncios nos sigilos
Próximo Texto: "Não sou perita criminal", afirma analista da Receita
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.