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"Não tenho vocação para carro alegórico", afirma Michel Temer
Vice de Dilma diz que corrupção no Brasil é endêmica
MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Nascido há 70 anos em
Tietê, no interior de SP, Michel Miguel Elias Temer Lulia
chegará ao auge da carreira
política se vencer as eleições
como vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff (PT).
"Vou ser um vice discreto,
viu? Não tenho vocação para
carro alegórico." Será também o vice mais poderoso da
história recente do Brasil.
Itamar Franco (vice de Collor), Marco Maciel (vice de
FHC) e José Alencar (vice de
Lula) eram do "bloco do eu
sozinho", com nenhuma influência em seus partidos.
Temer uniu o PMDB num
projeto de poder. E poderá tomar posse com o respaldo de
um partido de cerca de cem
parlamentares, vários governadores e prefeitos.
Nos últimos dias, ele visitou gabinetes poderosos do
país. Almoçou e jantou com
donos de alguns dos principais meios de comunicação.
Esteve com os banqueiros
Roberto Setubal e Joseph Safra, com empresários, desembargadores e juízes.
Ouviu num discurso que é
"a garantia de que as prerrogativas dos advogados serão
respeitadas, de que a liberdade de imprensa será ampla".
"O PMDB é de centro, fiador
da democracia", diz Temer.
Em todos os eventos, ele
transmite a mensagem: Lula
"pacificou os movimentos
sociais e deu tranquilidade
ao país". Dilma, diz, seguirá
no mesmo caminho.
MUITA CALMA
"Jamais a imprensa pôde
falar tão mal de um governo e
de um presidente como nos
últimos oito anos", diz ele. "E
a Dilma já disse que controle,
para ela, só o remoto, para
mudar o canal da TV." Para
os que reclamam da imprensa, pede moderação. "Quando falam pra mim sobre a imprensa, precisa fazer isso e
aquilo, eu digo: minha gente,
não precisa fazer nada. A
Constituição garante [ao
ofendido] direito de resposta
e de indenização por danos
morais e materiais."
Temer liderou o PMDB no
governo de Fernando Henrique Cardoso, quando o partido apoiava o tucano, e presidiu a Câmara dos Deputados.
Na época, o então ministro
das Comunicações, Sérgio
Motta, queria debater uma
nova Lei de Comunicação
Eletrônica de Massa -que
pretendia restringir o monopólio, regular e determinar
novas regras de propriedade
e programação para a radiodifusão (rádios e TVs).
O projeto foi engavetado
depois da morte do ministro,
em 1998. E virou tabu.
No governo do PT, o tema
renasceu, de forma incipiente. O presidente Lula afirmou, recentemente, que a
discussão sobre um novo
marco regulatório de telecomunicações é "inexorável".
Questionado, Temer diz
não ver problemas no debate. "Há uma discussão sobre
a democratização da propriedade, da concessão dos
meios de comunicação audiovisuais. E há outra sobre a
liberdade de imprensa. Não
se pode confundir os dois
conceitos. E, data venia,
quem confunde é a "opinião
publicada" [na mídia]."
Temer diz que o debate
"não me parece que seja tão
necessário", mas "não pode
ser interditado. Falamos tanto em democracia, e às vezes
as pessoas querem democracia só para uma das partes".
"Neste tema, é preciso ir
com muita calma. É preciso
fazer um diálogo do governo
com os setores de comunicação. Não se pode criar um impasse. Podemos ter um desastre institucional." E não
se pode "violar as concessões
[de TV] já consolidadas, que
são um ato jurídico perfeito".
A corrupção foi outro tema
da campanha. "A corrupção
no Brasil é endêmica. Sabe os
santos do pau oco? [No Brasil
Colônia] escondiam o ouro
dentro deles para não pagarem impostos." Apesar dos
escândalos no próprio
PMDB, ele diz que a situação
melhorou "sensivelmente".
MISS PAULÍNIA
Professor de direito constitucional com vários livros
publicados, entrou na política pelas mãos do ex-governador Franco Montoro (PSDB-SP), de quem foi secretário de
Segurança, cargo que ocupou também no governo do
quercista Antonio Fleury Filho. Está no sexto mandato
de deputado federal. Por 25
anos, combateu o PT. Em
2002, apoiou José Serra
(PSDB), contra Lula, à Presidência. Em 2006, apoiou Geraldo Alckmin (PSDB-SP),
novamente contra Lula.
E quando as diferenças
históricas viraram amor?
"Comecei a pensar: "Poxa, esse presidente aí, o Lula, tá fazendo coisa boa"."
Nega que o PMDB, com
seis ministérios com Lula,
exija a metade de todos os
cargos de um governo Dilma.
"A coligação é baseada em
propostas de governo."
Diz que lê seis livros por
mês e faz poemas em guardanapos quando viaja de avião.
"O outro sou eu assim/desarticulado, desajeitado."
Há oito anos, separado,
pai de quatro filhos, conheceu a terceira mulher, Marcela. Tinha 62 anos. Ela, 20. O
encontro foi em Paulínia
(SP), onde ela concorrera a
miss e ele fazia campanha.
"Voltei para SP pensando:
"Poxa, seu eu fosse jovem...'". Houve o reencontro,
a paixão, o casamento. Em
2009, nasceu o filho, Michelzinho. Temer dedicou à mulher um de seus poemas preferidos: "Mar és o céu/por isso te chamaram/Marcela".
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