São Paulo, sábado, 02 de outubro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

"Não tenho vocação para carro alegórico", afirma Michel Temer

Vice de Dilma diz que corrupção no Brasil é endêmica

MÔNICA BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA

Nascido há 70 anos em Tietê, no interior de SP, Michel Miguel Elias Temer Lulia chegará ao auge da carreira política se vencer as eleições como vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff (PT).
"Vou ser um vice discreto, viu? Não tenho vocação para carro alegórico." Será também o vice mais poderoso da história recente do Brasil.
Itamar Franco (vice de Collor), Marco Maciel (vice de FHC) e José Alencar (vice de Lula) eram do "bloco do eu sozinho", com nenhuma influência em seus partidos.
Temer uniu o PMDB num projeto de poder. E poderá tomar posse com o respaldo de um partido de cerca de cem parlamentares, vários governadores e prefeitos.
Nos últimos dias, ele visitou gabinetes poderosos do país. Almoçou e jantou com donos de alguns dos principais meios de comunicação. Esteve com os banqueiros Roberto Setubal e Joseph Safra, com empresários, desembargadores e juízes.
Ouviu num discurso que é "a garantia de que as prerrogativas dos advogados serão respeitadas, de que a liberdade de imprensa será ampla". "O PMDB é de centro, fiador da democracia", diz Temer.
Em todos os eventos, ele transmite a mensagem: Lula "pacificou os movimentos sociais e deu tranquilidade ao país". Dilma, diz, seguirá no mesmo caminho.

MUITA CALMA
"Jamais a imprensa pôde falar tão mal de um governo e de um presidente como nos últimos oito anos", diz ele. "E a Dilma já disse que controle, para ela, só o remoto, para mudar o canal da TV." Para os que reclamam da imprensa, pede moderação. "Quando falam pra mim sobre a imprensa, precisa fazer isso e aquilo, eu digo: minha gente, não precisa fazer nada. A Constituição garante [ao ofendido] direito de resposta e de indenização por danos morais e materiais."
Temer liderou o PMDB no governo de Fernando Henrique Cardoso, quando o partido apoiava o tucano, e presidiu a Câmara dos Deputados.
Na época, o então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, queria debater uma nova Lei de Comunicação Eletrônica de Massa -que pretendia restringir o monopólio, regular e determinar novas regras de propriedade e programação para a radiodifusão (rádios e TVs).
O projeto foi engavetado depois da morte do ministro, em 1998. E virou tabu.
No governo do PT, o tema renasceu, de forma incipiente. O presidente Lula afirmou, recentemente, que a discussão sobre um novo marco regulatório de telecomunicações é "inexorável".
Questionado, Temer diz não ver problemas no debate. "Há uma discussão sobre a democratização da propriedade, da concessão dos meios de comunicação audiovisuais. E há outra sobre a liberdade de imprensa. Não se pode confundir os dois conceitos. E, data venia, quem confunde é a "opinião publicada" [na mídia]."
Temer diz que o debate "não me parece que seja tão necessário", mas "não pode ser interditado. Falamos tanto em democracia, e às vezes as pessoas querem democracia só para uma das partes".
"Neste tema, é preciso ir com muita calma. É preciso fazer um diálogo do governo com os setores de comunicação. Não se pode criar um impasse. Podemos ter um desastre institucional." E não se pode "violar as concessões [de TV] já consolidadas, que são um ato jurídico perfeito".
A corrupção foi outro tema da campanha. "A corrupção no Brasil é endêmica. Sabe os santos do pau oco? [No Brasil Colônia] escondiam o ouro dentro deles para não pagarem impostos." Apesar dos escândalos no próprio PMDB, ele diz que a situação melhorou "sensivelmente".

MISS PAULÍNIA
Professor de direito constitucional com vários livros publicados, entrou na política pelas mãos do ex-governador Franco Montoro (PSDB-SP), de quem foi secretário de Segurança, cargo que ocupou também no governo do quercista Antonio Fleury Filho. Está no sexto mandato de deputado federal. Por 25 anos, combateu o PT. Em 2002, apoiou José Serra (PSDB), contra Lula, à Presidência. Em 2006, apoiou Geraldo Alckmin (PSDB-SP), novamente contra Lula.
E quando as diferenças históricas viraram amor? "Comecei a pensar: "Poxa, esse presidente aí, o Lula, tá fazendo coisa boa"."
Nega que o PMDB, com seis ministérios com Lula, exija a metade de todos os cargos de um governo Dilma. "A coligação é baseada em propostas de governo."
Diz que lê seis livros por mês e faz poemas em guardanapos quando viaja de avião. "O outro sou eu assim/desarticulado, desajeitado."
Há oito anos, separado, pai de quatro filhos, conheceu a terceira mulher, Marcela. Tinha 62 anos. Ela, 20. O encontro foi em Paulínia (SP), onde ela concorrera a miss e ele fazia campanha.
"Voltei para SP pensando: "Poxa, seu eu fosse jovem...'". Houve o reencontro, a paixão, o casamento. Em 2009, nasceu o filho, Michelzinho. Temer dedicou à mulher um de seus poemas preferidos: "Mar és o céu/por isso te chamaram/Marcela".


Texto Anterior: Lula adota tom ameno
Próximo Texto: Frase
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.