São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2010

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Presidente 40 - A transição

Para poupar Dilma, Lula deve antecipar corte de gastos e medidas de ajuste fiscal

Entre as medidas impopulares que presidente pode adotar estão reajuste menor para servidores do Judiciário

Balizado em alto índice de aprovação, Lula quer que equipe econômica apresente diagnóstico à assessoria da sucessora

Ricardo Stuckert/Efe
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva parabeniza Dilma, domingo à noite, no Palácio da Alvorada, no primeiro encontro dos dois depois que ela foi eleita

KENNEDY ALENCAR
DE BRASÍLIA

O presidente Lula deverá antecipar medidas econômicas duras e impopulares para evitar que a sucessora, Dilma Rousseff, tenha de adotá-las no início de seu governo.
Amanhã e quinta-feira, as pastas da Fazenda e do Planejamento deverão finalizar estudos de medidas de ajuste que acham necessárias para o novo governo. O diagnóstico será transmitido à equipe de transição de Dilma.
A Folha apurou que Lula já se dispôs, se Dilma quiser, a implementar medidas duras. A ideia é aproveitar a alta popularidade de Lula para tomar decisões que possam ser desagradáveis a setores do funcionalismo público e da sociedade como um todo.
Apesar de ter negado durante a campanha, Dilma e Lula já discutiram medidas de ajuste fiscal e até monetária. Será um ajuste menor que o feito por Lula em 2003, quando havia uma situação econômica mais crítica.
Governo e a equipe de transição discutem a adoção de novas medidas para conter a valorização do real.
No segundo turno, assessores econômicos de Dilma consideraram "marginais" as ações do Ministério da Fazenda para reduzir a entrada de capital especulativo.
Uma das medidas que podem ser tomadas é a desonerações para compensar setores que estão sofrendo mais com a sobrevalorização do real em relação ao dólar.
Para evitar alta dos juros em 2011 para combater a inflação, a equipe econômica e assessores de Dilma avaliam que são necessárias medidas fiscais pontuais para reduzir o gasto público. Com juros menores, há também menor tendência de valorização do real em relação ao dólar.

REAJUSTE DO JUDICIÁRIO
Outra medida: Lula deverá negar o pedido do Judiciário para que seja concedido um reajuste de 56% ao funcionalismo público dessas categorias. Há projeto no Congresso tramitando nesse sentido.
O atual presidente pode assumir o desgaste de bancar um reajuste menor, concedendo a inflação no período.
Cálculos da equipe econômica mostram que o reajuste de 56% teria um impacto extra de R$ 7,2 bilhões ao ano na folha de pagamento do Judiciário e de R$ 800 milhões na do Ministério Público.
As medidas em análise se concentram na área fiscal. A intenção de Dilma é criar as condições para que os juros básicos da economia possam cair mais consistentemente durante o seu governo.
A Folha apurou que uma medida será reduzir a política de reajuste salarial para o funcionalismo público. Isso não significa que não haverá reajustes, mas que eles serão mais parcimoniosos no início do novo governo.
Lula também está disposto a negociar com o Congresso um Orçamento mais draconiano para 2011.
Criticado por ter estimulado gastos públicos em seus mandatos, Lula se despediria com medidas de austeridade, o que angariaria simpatia de setores conservadores, como o empresariado e o mercado financeiro.
A adoção de medidas econômicas duras não significará cortar verbas de programas sociais e de obras do PAC. Auxiliares dizem que Dilma aumentará aos poucos investimentos em saúde, educação e segurança.

SALÁRIO MÍNIMO
Pela lei, o governo tem de autorizar um novo salário mínimo para entrar em vigor em 1º de janeiro.
A ideia de Lula é negociar um valor com Dilma, deixando que ela fature politicamente um reajuste maior que os R$ 540 previstos pela atual equipe econômica.
Mas o governo não está disposto a aumentar o mínimo para R$ 600, como prometeu o candidato derrotado José Serra (PSDB-SP).
Como confirmou ontem um dos coordenadores da campanha de Dilma, o ex-ministro Antonio Palocci, há estudo para redução na meta de inflação. Hoje, o centro da meta é de 4,5%, com variação de dois pontos percentuais para cima e para baixo.
A ideia é fixar para 2012 uma meta na casa de 4%.


Colaborou NATUZA NERY, de Brasília


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