São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2010

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SOS Bulgária

País europeu festeja eleição de Dilma e espera ajuda da "dama de ferro" para tirar o país da crise; búlgaros apostam que ascendência da presidente eleita ajude a estreitar as relações entre os dois países

VAGUINALDO MARINHEIRO
ENVIADO ESPECIAL A SÓFIA

Dilma Rousseff não fala búlgaro, nunca foi à Bulgária, mas muitos búlgaros esperam que a nova presidente do Brasil ajude o país.
A Bulgária enfrenta hoje uma série de problemas: o governo está sem dinheiro, a economia encolhe, o desemprego cresce e as máfias ganham mais e mais poder.
A razão da esperança em Dilma está em seu sangue búlgaro. O pai da presidente eleita, Pedro Rousseff, nasceu na Bulgária, de onde fugiu em 1929 deixando a mulher grávida. Ele nunca mais voltou ao país nem conheceu o filho.
Não se sabe o motivo da fuga: uns dizem que foi por razões políticas (ele seria membro do Partido Comunista); outros, por razões econômicas (estaria falido).
O Ministério das Relações Exteriores já planeja uma visita oficial ao Brasil no próximo ano. Espera, em contrapartida, que Dilma inclua a Bulgária em seu primeiro giro pela Europa.
"Vamos tentar estreitar as relações políticas e comerciais. Há várias opções de investimentos para o Brasil na Bulgária. Podemos ser a porta de entrada para os brasileiros na União Europeia", afirmou à Folha Vessela Cherneva, porta-voz do ministério.

ENCOLHIMENTO
Investimento é tudo do que a Bulgária precisa. O PIB (conjunto de riquezas de um país) deve encolher 1% neste ano. Já o desemprego está em 10,1%. Há um ano era de 7,4%. Entre os jovens, 20,7% estão sem trabalho.
Em carta à Dilma, o presidente búlgaro, Georgi Parvanov, disse que a vitória encheu de orgulho o povo búlgaro e fez um convite formal para que ela visite o país.
Já o primeiro-ministro, Boyko Borisov, afirmou que tem certeza de que as relações entre os dois países serão intensificadas.

"DAMA DE FERRO"
Nas ruas, as pessoas também esperam uma ajuda da "dama de ferro", como Dilma é às vezes chamada pela mídia local.
É uma referência à Margaret Thatcher, que foi primeira-ministra do Reino Unido de 1979 a 1990 e, como Dilma, tinha fama de durona.
"É uma questão de sangue. Tenho certeza de que ela, que é meio búlgara, vai olhar com mais carinho para o nosso país, que está com tantos problemas", afirma Elena Marinova, 23, estudante de letras da Universidade de Sófia.
A universidade, que é pública, sofre com a falta de dinheiro. Ontem, os estudantes fizeram uma manifestação pelo centro da cidade.
Outra universidade, de artes, deve antecipar as férias por falta de verba para pagar o aquecimento no inverno.
"A gente olha para o Brasil com certa inveja. Vocês estão indo para a frente, nós, para trás. Espero que a Dilma faça um bom governo e sirva de exemplo para os políticos búlgaros", disse Vladimir Dikov, 23, aluno de economia.

FAMILIARES
Dilma não tem mais parentes diretos na Bulgária. Os quatro irmãos de seu pai já morreram. Seu meio-irmão, Luben Russév, também morreu, em 2007, sem nunca ter visto a irmã ou o pai. Ele não teve filhos.
Há primos em segundo grau, como Ralitsa Neguentsova, que a imprensa local afirma ter semelhanças físicas com Dilma.
Ralitsa disse que acompanhou o processo eleitoral no Brasil e que está contente com a vitória da parente distante. "Estou orgulhosa e espero que ela continue o trabalho feito pelo presidente Lula", afirmou.
Já Vesela Koleva, outra prima em segundo grau da presidente eleita, disse que ficou emocionada com a vitória e que espera que Dilma justifique a confiança dos brasileiros que votaram nela.

FEBRE DILMA
Dilma era totalmente desconhecida na Bulgária até 2004, quando deu uma entrevista para um jornal local em que falava do pai e do meio-irmão. A partir daí, a mídia passou a acompanhar sua vida.
Quando foi escolhida por Lula para sucedê-lo, as reportagens passaram a ser mais frequentes.
Havia uma disputa entre os meios de comunicação para ver quem descobria mais parentes da então candidata.
Em entrevistas, Dilma cuidava de manter aceso o interesse. Sempre dizia que queria conhecer a Bulgária e os familiares.
No primeiro turno, emissoras de TV, rádios e jornais mandaram profissionais para cobrir a possível vitória da então candidata Dilma.
A falta de dinheiro impediu novas viagens para o segundo turno.
A presidente eleita, no entanto, não é uma unanimidade. Em fóruns de discussão na internet, búlgaros que se dizem anticomunistas criticam o fato de uma "guerrilheira tentar a Presidência".


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