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SOS BulgáriaPaís europeu festeja eleição de Dilma e espera ajuda da "dama de ferro" para tirar o país da crise; búlgaros apostam que ascendência da presidente eleita ajude a estreitar as relações entre os dois países
VAGUINALDO MARINHEIRO
ENVIADO ESPECIAL A SÓFIA
Dilma Rousseff não fala
búlgaro, nunca foi à Bulgária, mas muitos búlgaros esperam que a nova presidente
do Brasil ajude o país.
A Bulgária enfrenta hoje
uma série de problemas: o
governo está sem dinheiro, a
economia encolhe, o desemprego cresce e as máfias ganham mais e mais poder.
A razão da esperança em
Dilma está em seu sangue
búlgaro. O pai da presidente
eleita, Pedro Rousseff, nasceu na Bulgária, de onde fugiu em 1929 deixando a mulher grávida. Ele nunca mais
voltou ao país nem conheceu
o filho.
Não se sabe o motivo da fuga: uns dizem que foi por razões políticas (ele seria membro do Partido Comunista);
outros, por razões econômicas (estaria falido).
O Ministério das Relações
Exteriores já planeja uma visita oficial ao Brasil no próximo ano. Espera, em contrapartida, que Dilma inclua a
Bulgária em seu primeiro giro pela Europa.
"Vamos tentar estreitar as
relações políticas e comerciais. Há várias opções de investimentos para o Brasil na
Bulgária. Podemos ser a porta de entrada para os brasileiros na União Europeia", afirmou à Folha Vessela Cherneva, porta-voz do ministério.
ENCOLHIMENTO
Investimento é tudo do
que a Bulgária precisa. O PIB
(conjunto de riquezas de um
país) deve encolher 1% neste
ano. Já o desemprego está em
10,1%. Há um ano era de
7,4%. Entre os jovens, 20,7%
estão sem trabalho.
Em carta à Dilma, o presidente búlgaro, Georgi Parvanov, disse que a vitória encheu de orgulho o povo búlgaro e fez um convite formal
para que ela visite o país.
Já o primeiro-ministro,
Boyko Borisov, afirmou que
tem certeza de que as relações entre os dois países serão intensificadas.
"DAMA DE FERRO"
Nas ruas, as pessoas também esperam uma ajuda da
"dama de ferro", como Dilma
é às vezes chamada pela mídia local.
É uma referência à Margaret Thatcher, que foi primeira-ministra do Reino Unido
de 1979 a 1990 e, como Dilma, tinha fama de durona.
"É uma questão de sangue. Tenho certeza de que
ela, que é meio búlgara, vai
olhar com mais carinho para
o nosso país, que está com
tantos problemas", afirma
Elena Marinova, 23, estudante de letras da Universidade
de Sófia.
A universidade, que é pública, sofre com a falta de dinheiro. Ontem, os estudantes
fizeram uma manifestação
pelo centro da cidade.
Outra universidade, de artes, deve antecipar as férias
por falta de verba para pagar
o aquecimento no inverno.
"A gente olha para o Brasil
com certa inveja. Vocês estão
indo para a frente, nós, para
trás. Espero que a Dilma faça
um bom governo e sirva de
exemplo para os políticos
búlgaros", disse Vladimir Dikov, 23, aluno de economia.
FAMILIARES
Dilma não tem mais parentes diretos na Bulgária. Os
quatro irmãos de seu pai já
morreram. Seu meio-irmão,
Luben Russév, também morreu, em 2007, sem nunca ter
visto a irmã ou o pai. Ele não
teve filhos.
Há primos em segundo
grau, como Ralitsa Neguentsova, que a imprensa local
afirma ter semelhanças físicas com Dilma.
Ralitsa disse que acompanhou o processo eleitoral no
Brasil e que está contente
com a vitória da parente distante. "Estou orgulhosa e espero que ela continue o trabalho feito pelo presidente
Lula", afirmou.
Já Vesela Koleva, outra prima em segundo grau da presidente eleita, disse que ficou
emocionada com a vitória e
que espera que Dilma justifique a confiança dos brasileiros que votaram nela.
FEBRE DILMA
Dilma era totalmente desconhecida na Bulgária até
2004, quando deu uma entrevista para um jornal local
em que falava do pai e do
meio-irmão. A partir daí, a
mídia passou a acompanhar
sua vida.
Quando foi escolhida por
Lula para sucedê-lo, as reportagens passaram a ser
mais frequentes.
Havia uma disputa entre
os meios de comunicação para ver quem descobria mais
parentes da então candidata.
Em entrevistas, Dilma cuidava de manter aceso o interesse. Sempre dizia que queria conhecer a Bulgária e os
familiares.
No primeiro turno, emissoras de TV, rádios e jornais
mandaram profissionais para cobrir a possível vitória da
então candidata Dilma.
A falta de dinheiro impediu novas viagens para o segundo turno.
A presidente eleita, no entanto, não é uma unanimidade. Em fóruns de discussão
na internet, búlgaros que se
dizem anticomunistas criticam o fato de uma "guerrilheira tentar a Presidência".
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