São Paulo, domingo, 03 de julho de 2011

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Mineiro abriu caminho para o sucesso do Plano Real

Presidente assegurou estabilidade democrática pós-Collor; no Senado, foi crítico ferrenho do governo Dilma

OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA

O presidente Itamar Franco despontou da Prefeitura de Juiz de Fora (MG) para o cenário político nacional em 1974, quando foi eleito senador pelo MDB. Naquele ano, o partido beneficiou-se da insatisfação com o regime militar e recebeu uma enxurrada de votos em todo o país.
Reeleito senador em 1982 pelo PMDB, Itamar tentaria o governo mineiro em 1986, pelo Partido Liberal. Foi derrotado por Newton Cardoso, do PMDB, partido que naquele ano obteve sua maior vitória, na onda do popular Plano Cruzado.
Em 1989, Itamar entrou na chapa de Fernando Collor como candidato a vice. Já durante a campanha, desentendeu-se com a equipe e ameaçou renunciar à candidatura.
Com a vitória, foi isolado do centro de decisões e tornou-se um crítico do governo.
O rompimento se consumou em abril de 1992, quando uma reforma ministerial alçou ao primeiro escalão políticos ligados ao regime militar. Contrariado, Itamar se desligou do PRN em março.
Àquela altura, denúncias de corrupção já abalavam o mandato de Collor. Itamar atuou discretamente em busca de uma saída constitucional que o levasse a assumir a Presidência.
Itamar começou a governar interinamente em 2 de outubro, quando a Câmara autorizou a abertura do processo de impeachment e o presidente foi afastado.
Em 29 de dezembro, Collor renunciou. Com meio mandato, Itamar tinha dois desafios: a estabilidade democrática e o combate à inflação.
Itamar teve três ministros da Fazenda antes de convidar Fernando Henrique Cardoso a assumir a pasta, em maio de 1993. Com êxito, FHC implementou o Plano Real a partir de março de 1994 e em outubro elegeu-se presidente no primeiro turno. Itamar deixou o governo com razoável índice de aprovação.
A convivência entre Itamar e FHC não seria pacífica.
Consolidava-se uma imagem folclórica do mineiro, em episódios como o Carnaval de 1994. Em plena gestação do Real, Itamar deixou-se fotografar no Sambódromo ao lado de uma modelo seminua. A foto provocou uma crise no governo.
No início do mandato de FHC, sua nomeação como embaixador em Lisboa não impediu que o Itamar fustigasse o antigo colaborador.
Quando FHC dava início ao segundo mandato, em 1999, Itamar chegava ao Palácio da Liberdade. Em meio a uma aguda crise financeira internacional, a situação do Brasil já era crítica quando Itamar declarou a moratória da dívida mineira. O gesto gerou desconfiança dos investidores estrangeiros, e o real, vítima de um ataque especulativo, desvalorizou-se.
Em 2003, depois de apoiar a eleição de Lula, Itamar foi nomeado embaixador em Roma, onde ficou por dois anos. De volta em 2005, iniciou uma espécie de exílio voluntário em Juiz de Fora.
O isolamento foi rompido em 2010. Filiado ao PPS (Partido Popular Socialista), Itamar foi conduzido à vice-presidência da legenda e conquistou uma cadeira no Senado, com o apoio do governador eleito Aécio Neves.
De volta ao Parlamento, mostrou-se um crítico de primeira hora do governo Dilma. Na Comissão de Reforma Política, foi autor de duas propostas: mandato presidencial de cinco anos e o fim da reeleição.
Em maio, foi diagnósticado com leucemia.


OSCAR PILAGALLO, jornalista, é autor de "A História do Brasil no Século 20" (em cinco volumes, pela Publifolha).


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