São Paulo, domingo, 03 de outubro de 2010

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Dilma inflou dados, e Serra fez promessas complicadas

Marina foi vaga em suas propostas, como na mudança na Previdência

Petista errou dados sobre vários temas, enquanto tucano fez promessas que são difíceis de cumprir

GUSTAVO PATU
DE BRASÍLIA

Ao fim de três meses de campanha eleitoral, Dilma Rousseff foi quem mais inflou números e feitos, José Serra fez as promessas mais extravagantes e Marina Silva se escudou nas bandeiras mais abstratas.
Os três principais candidatos ao Palácio do Planalto não apresentaram grande diversidade programática -em linhas gerais, os diagnósticos do presente e prioridades para o futuro são semelhantes. As nuances de retórica se explicam por diferentes estratégias, estilos e circunstâncias.
Especialmente no início da disputa, quando ainda não havia assumido a liderança nas pesquisas, Dilma amparou seu discurso na comparação entre os resultados dos governos FHC e Lula.
Não bastava, porém, apresentar indicadores melhores: era preciso estabelecer desastres tucanos seguidos de redenções petistas.
"O Brasil investia menos de R$ 300 milhões no Brasil inteiro [em saneamento]. Hoje, aqui no Rio, na Rocinha, nós investimos mais de R$ 270 milhões", disse em agosto. Não se sabe até hoje como foram produzidos tais valores, mas os desmentidos não impediram novas cifras grandiloquentes, inclusive sobre saneamento.
Além de alimentar as paixões dos militantes, contrastes do gênero servem como antídoto para a percepção de que, no poder, o PT abandonou as teses dos tempos de oposição e deu continuidade à agenda econômica e social introduzida pelo PSDB.
Serra inaugurou sua campanha com uma descrição ainda mais ampla da continuidade: o processo, argumentava, compreendia toda a redemocratização do país, da Constituição de 1988 ao Bolsa Família, do Sistema Único de Saúde à Lei de Responsabilidade Fiscal.
Tratava-se de diluir em 25 anos os méritos pelo desempenho inegavelmente melhor do país nos últimos oito -quando, com a ajuda de fatores como a transformação demográfica e o cenário internacional, o crescimento econômico foi acelerado, a inflação se manteve sob controle e a pobreza foi reduzida.
Depois que o pacifismo não evitou sua queda para o segundo lugar nas pesquisas, o tucano adotou uma estratégia mais agressiva de promessas. Não apenas duplicar o alcance do Bolsa Família, como conceder um 13º pagamento do benefício; salário mínimo de R$ 600 e reajuste de 10% para as aposentadorias de maior valor.
Marina preferiu princípios vagos mesmo em propostas grandiosas, como a adoção do regime de capitalização na Previdência, em que cada segurado poupa para sua própria aposentadoria -e não se sabe como será financiado o benefício de quem já está aposentado.


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