São Paulo, sexta-feira, 03 de dezembro de 2010

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ANÁLISE

Vazamentos causam mais constrangimento que efeitos reais


NADA INDICA QUE ALGO DE GRAVE PARA A RELAÇÃO BILATERAL POSSA ADVIR DESSAS REVELAÇÕES

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE SÃO PAULO

As revelações sobre a relação bilateral Brasil-EUA vindas a público até agora graças ao trabalho do WikiLeaks causam mais constrangimentos a alguns personagens mencionados do que efeitos reais sobre ela.
Assim como quando classificou as consequências da crise econômica mundial de 2008 sobre o Brasil como "marolinhas", o presidente Lula pode exagerar, mas não estar longe da verdade, ao chamar os documentos de diplomatas norte-americanos sobre o país que apareceram nesta semana como "insignificâncias".
Ninguém que acompanhe bem o diálogo entre os dois países desconhece que desde 2003 bolsões de retórica antiamericana que sempre existiram no Itamaraty ganharam espaço e que isso causa algum desconforto no Departamento de Estado.
Mas também todos sabem que em nenhum momento os pontos essenciais que unem as duas nações estiveram ameaçados de ruptura.
A tradição da diplomacia brasileira tem sido, desde o barão do Rio Branco, de manter em relação aos EUA posição de relativa autonomia e de preservação estratégica de interesses.
Raros foram os períodos em que essa linha se alterou dramaticamente no caminho ou do alinhamento automático (governos Dutra e Castello Branco) ou de níveis de tensão mais altos (governos Jânio/Jango e Geisel). Na administração Lula, apesar de arroubos de discurso aqui e acolá, o padrão básico se manteve.
É natural e público que haja divergências internas no governo brasileiro sobre o caráter da relação do país com os EUA. Também é mais do que esperável que as autoridades americanas tratem com mais simpatia as brasileiras que veem seu país por uma ótica mais favorável.
Pode não ser prudente nem aconselhável que integrantes do primeiro escalão da administração do país sejam excessivamente cândidos com representantes de outra nação, mas isso nem sempre se consegue evitar.
Igualmente, não há como impedir que diplomatas estrangeiros cumpram o dever de mandar a seus superiores informações, análises e opiniões sobre os acontecimentos no país em que estão trabalhando. É para isso que eles são pagos.
É possível supor que de agora em diante os diplomatas americanos sejam mais cautelosos em seus relatos e talvez mesmo em suas conversas no Brasil. Mas nada indica que algo de grave para a relação bilateral possa advir desses vazamentos. Ao menos por enquanto.
Pode ser que quando se divulgue o conteúdo dos despachos da embaixada americana em Brasília sobre os movimentos do Brasil em relação ao programa nuclear iraniano no ano passado, o tom das avaliações seja mais intenso. Mas dificilmente a ponto de causar danos graves à relação.


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