São Paulo, sexta-feira, 04 de fevereiro de 2011

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Sócia de Furnas omitiu sua origem em paraíso fiscal

Empresa não informou ao BNDES que seu controlador tem sede nas Antilhas Holandesas; dono não a declarou no IR

Furnas disse que não pode analisar a origem dos recursos de seus parceiros; empresário não foi localizado

HUDSON CORRÊA
CRISTINA GRILLO
DO RIO

A Companhia Energética Serra da Carioca, empresa pivô da crise em Furnas, omitia seu sócio controlador e não apontava a origem do dinheiro investido na construção de uma hidrelétrica em Goiás em sociedade com a estatal, indicam documentos obtidos pela Folha.
Apesar dessas suspeitas, levantadas em relatório do corpo técnico do BNDES, Furnas comprou da empresa a participação no negócio da hidrelétrica.
Pagou pelas ações, em agosto de 2008, cerca de R$ 80 milhões. Oito meses antes, a Serra da Carioca havia entrado no negócio desembolsando apenas R$ 7 milhões pelas mesmas ações.
A estatal diz que não teve prejuízo porque a empresa já havia investido R$ 75 milhões no empreendimento. Mas não divulgou documento comprovando o aporte.
As dúvidas sobre a idoneidade da companhia vieram à tona quando ela foi apresentada por Furnas ao BNDES como sua nova sócia.
O BNDES já havia aprovado financiamento de R$ 587 milhões para a obra, mas passou a reavaliar seu aval.
Na época, o banco pediu informações sobre o quadro societário da Serra da Carioca. Na relação de sócios, estavam os empresários João Alberto Nogueira e Sérgio Reinas, com 5% das ações cada um, e a Gallway Projetos e Energia do Brasil, com 90%.
A controladora da Gallway era a Atlantic Energy Private Foundation com 99,99%.
A Serra da Carioca omitiu que Atlantic, sediada nas Antilhas Holandesas (paraíso fiscal), pertencia a Nogueira. Mas ao ser pressionada pelos técnicos do BNDES confirmou a informação. A Atlantic não aparecia no Imposto de Renda do empresário.
Nogueira, então, fez uma retificação à Receita, incluindo a propriedade. A correção foi realizada um dia antes de reunião no BNDES para apresentação de sua declaração de renda.
No final de seu relatório, a equipe do BNDES destaca que "falta clareza quanto à origem dos recursos".

OUTRO LADO
A Folha não localizou Nogueira. Em sua casa, a informação dada foi a de que ele está hospitalizado.
Furnas disse que não possui "prerrogativa legal" para analisar a "origem dos recursos" de seus parceiros.
Afirmou que, na venda das ações da Oliveira Trust para a Serra da Carioca (o negócio de R$ 7 milhões) foi solicitado a esta última empresa uma carta fiança de banco de primeira linha.
A Serra da Carioca não respondeu aos pedidos de entrevista. A empresa já havia negado irregularidades.


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