São Paulo, segunda-feira, 04 de abril de 2011 |
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"Excesso de adesão" é problema para Dilma, diz analista Professor vê "peemedebização" na política do país e diz que presidente precisará rever acordos feitos por Lula Para Marcos Nobre, será impossível manter compromissos com partidos, sindicatos, bancos e empresários
UIRÁ MACHADO DE SÃO PAULO O recém-criado PSD, definido por seu artífice, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, como um partido "nem de direita nem de esquerda nem de centro", é a maior expressão da "peemedebização" que o professor de filosofia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Marcos Nobre, 45, observa na política brasileira. O peemedebismo, diz Nobre, é uma herança dos anos 80 que combina adesismo e lógica do veto (ou seja, fazer política é mais vetar propostas do que formulá-las). Na entrevista a seguir, Nobre ainda explica por que a presidente Dilma Rousseff precisará renegociar os generosos acordos feitos por Lula: "Ela vai ter que mostrar que não há espaço para todo mundo". Para ele, o "passivo político" herdado de Lula é "quase inadministrável". Como vê a decisão do Supremo que anulou a validade da Lei da Ficha-Limpa? O episódio mostra claramente o que acontece quando a sociedade e o sistema político estão divorciados. Não é à toa que o STF se dividiu: ficou entre um sistema político fechado sobre si mesmo, uma sociedade que não se vê politicamente representada e a tradição interpretativa da Constituição. Não é nem "judicialização da política" nem "politização do Judiciário": é uma cultura política peemedebizada. Em que sentido? O peemedebismo -que não se confunde com o PMDB, embora este partido seja sua ponta mais visível- tem como característica estar no poder o tempo todo. É uma cultura política que evita o confronto aberto e opera com uma lógica de veto. Ou seja, os grupos se organizam para, nos bastidores, conquistar o direito de vetar determinadas posições. Não há um discurso positivo, não há uma tentativa de formar maioria e partir para o confronto. O que há é o veto e a tentativa de contornar os vetos. Há um bloqueio das discussões públicas que dissocia a política da sociedade. Esse modelo político, que se iniciou na década de 1980, havia perdido espaço no governo Fernando Henrique Cardoso, mas retornou com força após o mensalão. Por quê? O Plano Real organizou a política em dois polos: PSDB e PT. No centro, o peemedebismo, comandado pelo polo vencedor. Depois do mensalão, os dois principais partidos mudaram, perderam consistência. O mensalão levou Lula a se afastar do modelo polarizado e estabelecer o poder num centro difuso. A diminuição do confronto permitiu que a lógica do peemedebismo retomasse um papel central. O fim da polarização é a vitória do peemedebismo. Como a presidente Dilma lida com o problema? O problema de Dilma é que ela recebeu um passivo político quase inadministrável. Como assim? Ela recebeu uma quantidade enorme de acordos feitos por Lula, e todos muito generosos. São acordos com centrais sindicais, partidos, empresários, mercado etc. Mas Dilma não tem como manter todos. Há um limite. Se todo mundo está dentro e se todo mundo pode vetar propostas, o resultado é a paralisia. Isso é preocupante, porque são necessárias medidas na área econômica para conter um cenário de inflação e porque o país precisa andar no que diz respeito à infraestrutura. Dilma vai ter que comprar briga com setores trazidos para o governo por Lula? Vai ter que mostrar que não há espaço para todo mundo. Vai ter que renegociar esses acordos por um preço mais baixo. Não é brincadeira, tanto que ela coloca o peso do início do mandato nessas negociações. Foi assim com as centrais sindicais. Está sendo assim com o mercado financeiro, embora ainda não esteja claro o que ela vai fazer. Aparentemente, tem mais gente querendo aderir... Pois é, mas alguém tem que ficar de fora. E esse é o problema de [Gilberto] Kassab [prefeito de São Paulo]. Quem for para o novo partido [PSD] pensando em aderir ao governo Dilma vai perder a viagem. O problema de Dilma é o excesso de adesão. Ou seja, o PSD é mais um resultado do peemedebismo? Exatamente. É a maior expressão do peemedebismo. É a banalização da política. É um partido com discurso anódino, sem consistência, que gosta de se afirmar sem posição ideológica definida. Texto Anterior: Toda Mídia - Nelson de Sá: O que quer a China Próximo Texto: Raio-X: Marcos Nobre Índice | Comunicar Erros |
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