São Paulo, quarta-feira, 04 de maio de 2011

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ANÁLISE

Definição de miserável é conservadora, e atual surto inflacionário, grande desafio

FERNANDO CANZIAN
DE SÃO PAULO

O governo Dilma adotou o critério mais conservador possível para designar quem, no Brasil, sobrevive na pobreza extrema: renda per capita até R$ 70 ao mês.
Significa que, em uma família de cinco, a renda total ficaria abaixo de R$ 350.
Mesmo baixando a "altura da barra" para tentar eliminar a miséria em quatro anos, o objetivo começa a ser perseguido no pior momento dos últimos anos.
Nada mais nocivo para os 16,2 milhões de miseráveis (8,5% dos brasileiros) do que o ressurgimento da inflação.
Nos últimos 12 meses, a inflação oficial subiu 6,44%. No grupo alimentos e bebidas, a alta foi de 8,34%. E os miseráveis praticamente sobrevivem para comer, comprometendo quase toda a sua renda com isso.
Mesmo o objetivo de manter um nível de crescimento econômico maior aceitando um pouco mais de inflação (que parece ser a estratégia atual) não ajuda em quase nada os miseráveis.
A maior parte deles vive em zonas rurais do Norte e Nordeste, distantes de serviços públicos, e pouco se beneficiam do aumento do PIB. O desafio deles é comer.
Já o critério dos R$ 70 é defensável. O Banco Mundial classifica como "pobres extremos" os que vivem com menos de US$ 1,25 ao dia (cerca de R$ 60 ao mês).
Mas, no Brasil, não só o dólar está muito desvalorizado por questões conjunturais como o próprio governo considerava, até 2010, os R$ 70 como critério baixo demais.
O Ministério do Desenvolvimento Social já usa o dobro desse valor para tornar elegíveis os participantes do seu maior programa para atendimento aos pobres e miseráveis no país, o Bolsa Família.
E isso antes mesmo do atual surto inflacionário ter começado a corroer uma parte da renda deles.


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