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Investimentos do governo batem recorde com Lula
Em 12 meses, despesas atingem R$ 42 bilhões, o equivalente a 1,25% do PIB
Com exceção de 1994, eleições presidenciais ocorreram com taxas inferiores a 1% do que país consumiu e investiu
GUSTAVO PATU
VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA
Ainda distantes das metas
oficiais e das necessidades
da produção nacional, os investimentos do governo Luiz
Inácio Lula da Silva fecharam o primeiro semestre do
ano no maior patamar desde
o restabelecimento das eleições presidenciais no país.
Investimentos, diria um
economista, são gastos destinados a ampliar a infraestrutura e a capacidade de gerar
bens e serviços para empresários e consumidores. Pela
ótica política, são obras e
inaugurações em habitação,
saneamento, rodovias, ferrovias, hospitais e escolas.
Dados ainda preliminares
indicam que, ao longo dos últimos 12 meses, essas despesas, sem contar as das empresas estatais, somaram
R$ 42 bilhões, ou 1,25% do
Produto Interno Bruto, ou seja, de tudo o que o país consumiu e investiu no período.
As cinco eleições presidenciais anteriores foram disputadas com taxas de investimento inferiores a 1% do PIB,
com exceção do pleito de
1994, em pleno lançamento
do Plano Real -quando a
troca da moeda e o fim repentino da hiperinflação distorceram as estatísticas.
DESDE O PAC
Os investimentos vinham
em alta gradual desde o lançamento do PAC (Programa
de Aceleração do Crescimento), concebido como prioridade do segundo mandato
de Lula e bandeira de sua
candidata, Dilma Rousseff.
O que explica o recorde,
porém, é um salto repentino
de quase 60% nos primeiros
seis meses deste ano, na
comparação com o primeiro
semestre de 2009.
Abertura, ampliação e
conservação de rodovias,
obras de saneamento básico
e de urbanização de favelas
compõem a maior fatia das
despesas, além de um contrato firmado em acordo militar com a França para a construção de quatro submarinos
convencionais e um de propulsão nuclear. Um terço dos
recursos é repassado a governadores e prefeitos.
Mesmo em somas inéditas
desde a redemocratização do
país, os investimentos federais ainda têm mais peso político que econômico. Tanto o
governo como o país investem pouco para os padrões
internacionais, e o PAC fracassou na meta de impulsionar a elevação do investimento nacional à casa de
25% do PIB -são 18% hoje.
Durante o "milagre econômico" da ditadura militar,
obras a cargo dos cofres da
União ficavam, na média, em
1,8% do PIB, taxa nunca
mais repetida após a crise do
endividamento externo, nos
anos 80, que sepultou a era
do crescimento econômico
puxado pela ação do Estado.
Segundo diagnóstico quase consensual entre os analistas, o Brasil precisa elevar
sua taxa de investimento para sustentar o atual crescimento acelerado. Do contrário, a produção não será suficiente para acompanhar o
consumo, provocando alta
da inflação e das importações -o que ocorre hoje.
Lula espera que o ritmo
acelerado dos investimentos
públicos nessa reta final de
mandato contribua para eleger Dilma Rousseff.
Afinal, ela é, na definição
do próprio presidente, a
"mãe do PAC", programa
que não concluiu nem metade de suas obras, segundo
seu último balanço.
No ano passado, o governo
definiu que era estratégico
acelerar os investimentos do
PAC no ano eleitoral para fugir das críticas da oposição
de que o programa patina
desde seu lançamento. Além
de dar mais sustentação ao
crescimento da economia e
gerar empregos em 2010,
trunfos para a campanha
eleitoral contra o candidato
tucano José Serra.
CONTENÇÃO
Economista da consultoria
Tendências, Felipe Salto avalia que essa estratégia está
funcionando, neste início de
ano, porque o governo decidiu conter os gastos em custeio para abrir mais as torneiras dos investimentos.
Em sua opinião, porém,
esse ritmo não é sustentável,
já que no segundo semestre o
governo terá de bancar despesas que estão temporariamente bloqueadas. Isso deve
levar a uma redução no ritmo
de investimentos e a um aumento no de despesas de caráter permanente.
Segundo ele, os últimos
dados já indicam isso. Enquanto em janeiro os investimentos cresceram quase
100% em relação ao mesmo
mês de 2009, em maio esse
crescimento caiu para 50%.
A equipe de Lula diz que o
avanço no ritmo de investimentos não se deve ao período eleitoral. Segundo o ministro Paulo Bernardo (Planejamento), o governo em
seu segundo mandato foi
reaprendendo a investir e,
agora, está colhendo os frutos desse trabalho.
"O Estado ficou quase 20
anos praticamente sem investir. Tudo era voltado para
o controle. Mudamos essa lógica", diz Paulo Bernardo.
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