São Paulo, domingo, 04 de julho de 2010

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Investimentos do governo batem recorde com Lula

Em 12 meses, despesas atingem R$ 42 bilhões, o equivalente a 1,25% do PIB

Com exceção de 1994, eleições presidenciais ocorreram com taxas inferiores a 1% do que país consumiu e investiu

GUSTAVO PATU
VALDO CRUZ

DE BRASÍLIA

Ainda distantes das metas oficiais e das necessidades da produção nacional, os investimentos do governo Luiz Inácio Lula da Silva fecharam o primeiro semestre do ano no maior patamar desde o restabelecimento das eleições presidenciais no país.
Investimentos, diria um economista, são gastos destinados a ampliar a infraestrutura e a capacidade de gerar bens e serviços para empresários e consumidores. Pela ótica política, são obras e inaugurações em habitação, saneamento, rodovias, ferrovias, hospitais e escolas.
Dados ainda preliminares indicam que, ao longo dos últimos 12 meses, essas despesas, sem contar as das empresas estatais, somaram R$ 42 bilhões, ou 1,25% do Produto Interno Bruto, ou seja, de tudo o que o país consumiu e investiu no período.
As cinco eleições presidenciais anteriores foram disputadas com taxas de investimento inferiores a 1% do PIB, com exceção do pleito de 1994, em pleno lançamento do Plano Real -quando a troca da moeda e o fim repentino da hiperinflação distorceram as estatísticas.

DESDE O PAC
Os investimentos vinham em alta gradual desde o lançamento do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), concebido como prioridade do segundo mandato de Lula e bandeira de sua candidata, Dilma Rousseff.
O que explica o recorde, porém, é um salto repentino de quase 60% nos primeiros seis meses deste ano, na comparação com o primeiro semestre de 2009.
Abertura, ampliação e conservação de rodovias, obras de saneamento básico e de urbanização de favelas compõem a maior fatia das despesas, além de um contrato firmado em acordo militar com a França para a construção de quatro submarinos convencionais e um de propulsão nuclear. Um terço dos recursos é repassado a governadores e prefeitos.
Mesmo em somas inéditas desde a redemocratização do país, os investimentos federais ainda têm mais peso político que econômico. Tanto o governo como o país investem pouco para os padrões internacionais, e o PAC fracassou na meta de impulsionar a elevação do investimento nacional à casa de 25% do PIB -são 18% hoje.
Durante o "milagre econômico" da ditadura militar, obras a cargo dos cofres da União ficavam, na média, em 1,8% do PIB, taxa nunca mais repetida após a crise do endividamento externo, nos anos 80, que sepultou a era do crescimento econômico puxado pela ação do Estado.
Segundo diagnóstico quase consensual entre os analistas, o Brasil precisa elevar sua taxa de investimento para sustentar o atual crescimento acelerado. Do contrário, a produção não será suficiente para acompanhar o consumo, provocando alta da inflação e das importações -o que ocorre hoje.
Lula espera que o ritmo acelerado dos investimentos públicos nessa reta final de mandato contribua para eleger Dilma Rousseff.
Afinal, ela é, na definição do próprio presidente, a "mãe do PAC", programa que não concluiu nem metade de suas obras, segundo seu último balanço.
No ano passado, o governo definiu que era estratégico acelerar os investimentos do PAC no ano eleitoral para fugir das críticas da oposição de que o programa patina desde seu lançamento. Além de dar mais sustentação ao crescimento da economia e gerar empregos em 2010, trunfos para a campanha eleitoral contra o candidato tucano José Serra.

CONTENÇÃO
Economista da consultoria Tendências, Felipe Salto avalia que essa estratégia está funcionando, neste início de ano, porque o governo decidiu conter os gastos em custeio para abrir mais as torneiras dos investimentos.
Em sua opinião, porém, esse ritmo não é sustentável, já que no segundo semestre o governo terá de bancar despesas que estão temporariamente bloqueadas. Isso deve levar a uma redução no ritmo de investimentos e a um aumento no de despesas de caráter permanente.
Segundo ele, os últimos dados já indicam isso. Enquanto em janeiro os investimentos cresceram quase 100% em relação ao mesmo mês de 2009, em maio esse crescimento caiu para 50%.
A equipe de Lula diz que o avanço no ritmo de investimentos não se deve ao período eleitoral. Segundo o ministro Paulo Bernardo (Planejamento), o governo em seu segundo mandato foi reaprendendo a investir e, agora, está colhendo os frutos desse trabalho.
"O Estado ficou quase 20 anos praticamente sem investir. Tudo era voltado para o controle. Mudamos essa lógica", diz Paulo Bernardo.


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