São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2011

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RÉPLICA

Crítica teatral pedida pela ombudsman empobrece o leitor

Luiz Fernando Ramos contesta observações de Suzana Singer sobre a cobertura de teatro feita pela Ilustrada

O MODO COMO ENTENDO A CRÍTICA PREVÊ UM DIÁLOGO COM OS CRIADORES E A AMPLIAÇÃO DO CAMPO DE REFERÊNCIAS DO LEITOR

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

Diante do texto "Vá ao Teatro, mas não me chame", de 21/8, da ombudsman Suzana Singer, cabe uma resposta. Mesmo considerando que foi um ataque generalizado às críticas, reportagens e editoria do caderno, na condição de crítico de teatro do jornal há três anos não posso deixar barato.
A ombudsman da Folha zela pelo interesse do leitor, principalmente aquele sem familiaridade com os jargões teatrais, e é interessante que se preocupe com a seção de teatro, só recentemente aquinhoada com uma página fixa, às quintas-feiras.
Ao mesmo tempo, mais do que os exemplos de trechos obscuros, ou de falta de objetividade, pinçados de críticas ou reportagens, manifesta posição sobre qual deveria ser a cobertura teatral da Ilustrada.
É em torno dessa visão, e dos preconceitos e limitações nela percebidos, que faço as seguintes considerações. Segundo Singer, "além de reformar os textos é preciso repensar a pauta, que deve incluir mais musicais, os espetáculos "blockbuster" e descobrir os novos talentos do "stand up"."
Esse pressuposto, de que as críticas e reportagens da Ilustrada não abarcam espetáculos comerciais, ou de grande impacto popular, é falso. Com base em que dados objetivos ela afirma isso? Uma compilação séria das críticas e reportagens feitas nos últimos seis meses apontaria o contrário.
Quando aceitei o convite da Folha para escrever críticas, meu compromisso foi o de cobrir todas as formas e gêneros teatrais, na crença que, como para Cacilda Becker, "todos os teatros são meu teatro". Causa espanto, pois, que a ombudsman termine seu texto afirmando que "hoje, o teatro é para todos, mas as críticas, para poucos".
Com apenas três exemplos isolados de redação pouco clara, ela desqualifica o esforço de toda uma equipe para valorizar e atender às expectativas do jornal. No que parece uma preferência pessoal, ela sugere o que nenhuma pessoa seriamente comprometida com o jornalismo cultural julgaria razoável.
Ao reprovar uma reportagem porque não trazia quase nada do enredo da peça, valorizando o resumo do espetáculo no Guia da Folha, ela indica o tipo de criticismo que ambiciona. O da crítica de consumo, em que o leitor sem delongas é ou não aconselhado a adquirir o produto.
Ainda que esse aspecto não seja desprezível, e esteja contemplado em todas as críticas com uma avaliação objetiva, reduzir o trabalho do crítico a esse aconselhamento culinário é empobrecer o lugar da cultura no jornal.
O modo como entendo a crítica, além da informação clara sobre os conteúdos e a forma do espetáculo, de preferência contextualizados historicamente, prevê um diálogo com os seus criadores e, acima de tudo, a ampliação do campo de referências do leitor que nunca tenha ido ao teatro.


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