São Paulo, terça-feira, 05 de abril de 2011

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JANIO DE FREITAS

Notícia de viagem


As investigações da PF ligadas ao "mensalão" ainda vão passar pela apreciação da Procuradoria-Geral


AINDA ESTAMOS fora do Brasil. E é impossível prever por quanto tempo mais.
Este lugar de acontecimentos políticos inofensivos e rasteirinhos, com noticiário da altura de Gilberto Kassab e de um ou outro pretendente a explorar o "segundo escalão"; onde uma presidente alcança nível extraordinário de aprovação por seus primeiros cem dias, e há meses não estoura escândalo de corrupção governamental, este lugar em que estamos não é o Brasil que conhecemos.
Mas, a continuarmos nele ou sermos forçados a deixá-lo, dependemos de uma entidade que até parecia inerte -a Procuradoria-Geral da República. E do que veremos com o reaparecimento do "mensalão" no palco.
Não se pode desconsiderar a priori nenhum dos fatos publicados pela revista "Época" como partes de novas conclusões da Polícia Federal ligadas ao "mensalão". Os precedentes não autorizam as descrenças. Mas cair no aproveitamento da novidade pela oposição, desesperada para encontrar o que dizer seja lá sobre o que for, não é menos inadequado ao caso.
As investigações e conclusões da Polícia Federal vão passar pela apreciação da Procuradoria-Geral. Podem ser aceitas por inteiro, objeto do pedido de investigações adicionais, alteradas por exclusões parciais -enfim, as primeiras conclusões efetivas virão da Procuradoria-Geral, como preliminares às definitivas que cabem ao Supremo Tribunal Federal. Tudo semelhante ao primeiro capítulo do "mensalão" apenas na aparência.
A Procuradoria dispõe para sua nova tarefa, caso não se alterem demais as condições vigentes, de ambiente oposto, por exemplo, ao caso Collor-PC Farias e ao próprio "mensalão". Em ambas as ocasiões, a Procuradoria-Geral esteve cercada por um ambiente de exaltação a que não poderia ficar imune, em tal ou em qual direção. Ainda que brilhantes, os textos de seus pronunciamentos conclusivos, de encaminhamento do assunto ao Supremo, refletiram nas construções verbais a redução da frieza comum a esses documentos.
A pressão do ambiente sobrepôs-se a tudo.
Nos dois casos, as coisas não ficaram devidamente explicadas. No processo de Collor, basta dizer que, diante de tudo o que se passara, o recebimento de um carrinho Fiat foi a razão invocada para incriminá-lo. Do seu círculo de atividades comuns, só PC Farias recebeu algumas consequências.
No "mensalão", prejudicado também pelas pretensões políticas de utilizá-lo mais para a derrubada de Lula, o mecanismo, a extensão e o que expressou (e expressa) na política não foram alcançados -comprova-o, em parte, o aparecimento de mais investigações e outro relatório da PF. Não foram alcançados nem buscados. Na PF, talvez, em certa medida, pela pressão do ambiente para chegar às conclusões; na CPI do Congresso, por deliberação da maioria, governistas e oposição, de não se achegar à guilhotina.
Se vai perturbar o ambiente deste lugar especial em que estivemos nos últimos meses, conviria que a volta do "mensalão" , que de mensalão nada teve, fosse além de sua primeira apresentação.


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