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PRESIDENTE 40 ELEIÇÕES 2010
Jornalista e delegado são pivôs de intriga do dossiê
Repórter Amaury Ribeiro Jr. e Onésimo de Souza se reuniram com dilmistas
Envolvidos na produção do material que ataca aliados e família de Serra negam que seu objetivo fosse eleitoral
DE BRASÍLIA
No final da tarde de 20 de
abril passado, uma terça-feira, cinco pessoas se reuniram
para uma conversa no tradicional restaurante alemão
Fritz, na quadra 404 da Asa
Sul, em Brasília.
Comandava a mesa Luiz
Lanzetta, dono da Lanza Comunicação, empresa responsável pela contratação da
maioria dos integrantes da
assessoria de imprensa da
pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff.
Também estava lá o jornalista Amaury Ribeiro Júnior,
que investigou por anos o
processo de privatização brasileiro iniciado nos anos do
governo FHC (1995-2002).
Completavam a mesa o delegado aposentado da Polícia Federal Onésimo de Souza e dois servidores públicos
aposentados da chamada
"comunidade de informação", que trabalham com ele.
O encontro fora marcado
por Lanzetta para tentar contratar Onésimo e sua equipe.
A ideia era investigar os
funcionários de uma das sedes do comando da campanha dilmista. A demanda incluía averiguar se quem circulava no local mantinha algum tipo de relação com integrantes do PSDB e da campanha tucana a presidente encabeçada por José Serra.
A Folha apurou que Onésimo sugeriu um orçamento
de R$ 180 mil para executar o
serviço. O valor não foi aprovado pelo QG de Dilma. A
conversa resultou inócua,
mas o encontro vazou.
Na semana iniciada em 2
de maio, integrantes do
PSDB souberam que a campanha de Dilma estaria montando uma equipe de "inteligência" -com o objetivo, deduziram, de espionar Serra.
PONTOS OBSCUROS
Aí aparecem pontos de interrogação na rede de intrigas formada na história do
suposto dossiê anti-Serra relatado na mídia há uma semana, a partir de uma reportagem da revista "Veja".
Há pelo menos dois conjuntos de papéis, um com dados sobre aliados de Serra investigados na CPI do Banestado, e outro, com relato de
operações fiscais da filha do
presidenciável, Verônica.
Há dois aspectos obscuros
principais. Primeiro, a real
intenção de Lanzetta ao fazer
contato com detetives. Segundo, como a informação
sobre o encontro entre Lanzetta e o "grupo de inteligência" foi repassada para a imprensa e chegou aos tucanos.
Um terceiro detalhe também não foi esclarecido: por
que Ribeiro estava na conversa do dia 20 de abril?
Ele é amigo de Lanzetta.
Havia relatado trechos de
suas investigações. Os dados
começaram a ser coletados
pelo jornalista em sua passagem pelo "Estado de Minas",
principal diário mineiro, próximo politicamente do ex-governador Aécio Neves
(PSDB-MG).
Lanzetta e Ribeiro dizem
que o conteúdo da apuração
seria usado na elaboração de
um livro e nunca teriam cogitado fazer um dossiê para ser
usado na campanha.
A apuração de Ribeiro começou em 2009, depois que
Aécio, então ainda um potencial presidenciável, foi alvo de reportagens críticas.
Repórter investigativo
com passagens por Folha,
"O Globo" e "Jornal do Brasil", ele foi escalado para
apurar eventuais irregularidades relacionadas ao outro
presidenciável tucano, Serra.
O resultado das apurações
do jornalista nunca foi publicado pelo jornal. "Ele trabalhava em várias investigações. Essa investigação específica não estava concluída
quando ele pediu demissão
no final de 2009", diz o diretor de Redação do "Estado de
Minas", Josemar Gimenez.
Depois de deixar o emprego, Ribeiro contou o objeto
de suas apurações a Lanzetta. O contratado da campanha de Dilma se interessou
pelo assunto. Havia ali um
caso potencial para ser usado na disputa presidencial.
Lanzetta e Ribeiro passaram a considerar a produção
de um livro. A Lanza chegou
a redigir um texto para ser
distribuído à imprensa com
os principais tópicos do futuro livro -que passou a circular ontem na internet.
Nesse meio tempo, a pré-campanha de Dilma passou
a suspeitar de vazamentos de
dentro de seus QGs em Brasília. Surgiram reportagens negativas, relatando custos de
montagem de estrutura.
O alvo dessas informações
era sempre o chamado grupo
mineiro, encabeçado pelo
ex-prefeito de Belo Horizonte
Fernando Pimentel, amigo
de Lanzetta e responsável pela montagem da estrutura de
comunicação de Dilma.
RACHA PETISTA
Nessa época, no início de
maio, houve uma bifurcação
dentro do comando dilmista.
O grupo mineiro passou a
ser abordado por órgãos da
mídia querendo saber se havia produção de dossiês. Na
outra ponta, um outro grupo
composto por petistas paulistas foi acionado pela cúpula partidária para analisar o
que estava sendo feito.
Entre os paulistas estão o
ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci e o deputado
estadual Rui Falcão. Eles alimentaram na mídia a versão
de que houve de fato a tentativa de montar uma equipe
de inteligência. Mas venderam também o relato de que
abortaram essa estratégia.
A facção mineira sustenta
que o material produzido por
Ribeiro nunca foi cogitado
como um dossiê antitucanos.
Também declara não ter estabelecido relação comercial
com a campanha de Dilma.
Na reportagem de "Veja" e
em conversas reservadas, o
comando dilmista comemorou inicialmente ter abortado
potencial escândalo semelhante ao do dossiê dos "aloprados" de 2006. Já no fim da
semana, agora publicamente, petistas negam qualquer
contato com os papéis.
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