|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Mudança de estratégia durante uma campanha eleitoral é questão de ênfase
FABIANO SANTOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
A moderna literatura sobre campanhas eleitorais
identifica fundamentalmente duas estratégias utilizadas
por partidos e candidatos ao
longo do processo eleitoral.
Uma primeira é a que centra a discussão em torno de
políticas. Quais as que foram
bem-sucedidas, quais ainda
precisam de aperfeiçoamentos, e quais devem ser definitivamente abandonadas? Essas são as perguntas centrais
dessa linha de ação.
Uma segunda é chamada
de temas de valência e gira ao
redor de características pessoais, consideradas boas ou
ruins das diferentes candidaturas. Honestidade, competência, experiência, carisma
são os termos que imediatamente vêm à mente.
O recente aumento do tom
adotado pelo candidato José
Serra consiste, na verdade,
em mudança de estratégia ou
ênfase em torno de possíveis
estratégias a serem utilizadas
em uma campanha.
Desde que confirmou sua
disposição de competir, Serra procurou mostrar que no
terreno das políticas (estratégia um acima) muita coisa
ainda está por fazer para que
os brasileiros tenham motivos reais para comemorar.
Experimentou-se caminho
que, contudo, não revelou
ser suficiente para conter o
avanço da candidatura governista de Dilma Rousseff. A
psicologia do eleitor prejudica a oposição neste quesito.
O governo é bem avaliado,
suas políticas são bem avaliadas: o termo de comparação utilizado pelo votante comum é a sua vida, antes e depois do que ocorreu ao longo
dos dois mandatos de Lula,
sobretudo do último, período
durante o qual Dilma Rousseff esteve à frente dos principais projetos do governo.
Se a discussão permanece
no terreno de políticas, é bem
provável que os pontos de
ataque da oposição não decantem a tempo de reverter o
favoritismo do governo.
Seria uma questão de projeção para o futuro. Plantar o
tema agora para colher mais
na frente.
Este parece ser o caso dos
impostos -o que fazer para
melhorar a estrutura da arrecadação, alterar o seu perfil
de maneira a torná-la mais
justa e mais propensa ao desenvolvimento e à iniciativa
individual?
Mas Serra tem pressa. A estratégia dois passa a ser o foco: adentramos o despolitizante terreno da "valência".
Dossiês, boatos, escândalos, manipulação de informações substituem o saudável e fundamental debate em
torno do projeto de nação.
Debate que, em momentos
eleitorais, envolve um conjunto maior de atores, e não
apenas aqueles que vivem o
dia a dia da política.
Oxalá as pesquisas indiquem que este caminho é
ainda pior do que o primeiro.
Discutir política é sempre
melhor do que especular sobre autoria de "dossiê" (sic).
FABIANO SANTOS é cientista político,
professor e pesquisador do Iuperj
(Instituto Universitário de Pesquisas do
Rio de Janeiro).
Texto Anterior: Justiça: Petistas vão questionar declarações Próximo Texto: Claudio Weber Abramo: Por uma agenda oculta Índice
|