São Paulo, sexta-feira, 05 de agosto de 2011

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Militares criticam escolha de diplomata para Forças Armadas

Considerado incógnita, Celso Amorim terá de vencer desconfiança especialmente no Exército

Dilma convidou os três comandantes militares, que tinham boa relação com Nelson Jobim, a permanecer nos cargos

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

A reação ao nome do embaixador Celso Amorim para a Defesa foi ruim particularmente no Exército, que teve uma relação difícil e conflituosa com um outro ministro da Defesa pinçado da carreira diplomática: o embaixador José Viegas, que ocupou a pasta no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.
Oficiais que trocaram telefonema ontem à noite criticaram a escolha de Amorim e um deles foi bem claro em conversa com a Folha: "Desde quando diplomata gosta de guerra? É como botar médico para cuidar de necrotério. Parece brincadeira".
Apesar do temperamento duro de Jobim, ele tinha boa relação e o respeito dos comandantes e dos oficiais-generais (os de maior patente) das três Forças, que reconheciam nele um aliado para reivindicar programas e para reduzir o que consideram "preconceito" do governo de esquerda contra os militares.
A boa relação não se reproduzia nas bases militares, que consideravam Jobim "arrogante" e ironizavam que ele se comportava como "dono das Forças Armadas".
Mas eram críticas internas, que não comprometiam o comando e a desenvoltura de Jobim nas três Forças.
Quanto a Amorim, ele é tido como uma grande incógnita, mas militares do Exército admitem que a primeira fase de adaptação mútua não será fácil. Um grande desafio do novo ministro é a falta de perspectiva de descontingenciamento dos recursos severamente atingidos pelos cortes no Orçamento.
Dilma não fez consulta formal, mas sim uma deferência com os três comandantes militares, o general Enzo Peri (Exército), o brigadeiro Juniti Saito (Aeronáutica) e o almirante Júlio Soares de Moura Neto (Marinha).
Ela convidou ontem os três para permanecer nos cargos, o que foi interpretado como uma forma que ela encontrou para consultá-los sobre a escolha de Amorim.
Uma curiosidade é que Jobim e Amorim nunca foram amigos ou mesmo próximos durante a convivência no governo Lula. A interlocutores, costumavam fazer comentários irônicos sobre o outro.

WIKILEAKS
Jobim mais de uma vez enveredou por áreas e manifestações que caberiam ao Itamaraty. Telegramas da Embaixada dos EUA em Brasília obtidos pelo WikiLeaks indicaram, via relatos de diplomatas, que Jobim quis se afirmar como interlocutor privilegiado dos americanos.
Para o ex-embaixador Clifford Sobel, Jobim pareceu determinado a "desafiar a supremacia histórica do Itamaraty em todas as áreas da política externa". Numa conversa em 2008, Jobim disse que o então secretário-geral de Amorim, Samuel Pinheiro Guimarães, "odeia os EUA" e queria "criar problemas" na relação bilateral.
Também confrontou Amorim em negociações sobre uma eventual adesão ao Protocolo Adicional do Tratado de Não Proliferação Nuclear.

Colaborou CLAUDIA ANTUNES, da Sucursal do Rio


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