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Eletronorte tenta cooptar índios do Pará
Estatal é acusada de dar presentes a líderes indígenas para que apoiem a construção da hidrelétrica de Belo Monte
Empresa nega ter agido para conquistar apoio de índios; Funai afirma que ignora oferta de presentes com esse fim
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DE BELÉM
A Eletronorte vem tentando cooptar com presentes
grupos indígenas da Amazônia para que eles apoiem a
construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.
A tentativa foi relatada à
Folha por um dos envolvidos nas negociações com os
índios, sob a condição de
não se identificar. Ela também foi denunciada por
ONGs e pelos índios ao menos desde 2007 ao Ministério
Público Federal, que nunca
conseguiu comprová-la.
A Eletronorte nega "categoricamente" dar presentes
para cooptar índios. A Funai
disse que desconhece o caso.
A resistência dos indígenas à obra representa um
dos maiores entraves para
que a usina, leiloada em
abril deste ano, possa de fato
ser erguida, no rio Xingu,
oeste do Pará. Mas se intensificou e explicitou neste ano.
A suposta tática focou
principalmente os xicrins da
região de Bacajá, um dos povos indiretamente atingidos
pelas obras, e que têm ascendência sobre outras etnias.
Líderes xicrins têm recebido cestas básicas, aluguel de
barcos, motores e até casas
alugadas em Altamira (PA),
segundo relato à Folha. Estima-se que os presentes tenham custado R$ 400 mil.
Antes críticos de Belo
Monte, eles disseram que
mudaram de opinião e que
agora querem a hidrelétrica.
O anúncio foi feito no início
de junho, durante um encontro indígena em Altamira.
Relatório feito pela ONG
Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da
Amazônia Brasileira) dois
dias após o final do encontro
diz que alguns índios "alegaram estar a favor de Belo
Monte devido às ameaças...
realizadas por parte do governo, de retirar a assistência
da Funai e de saúde".
Desde o encontro, a cisão
entre os indígenas aumentou. Antes unidos contra a
usina, hoje há ao menos seis
líderes que apoiam o projeto.
A pressão também é feita
sobre os índios juruna. Marcos Apurinã, coordenador-geral da Coiab, disse que visitou uma comunidade da etnia e disse ter ouvido do líder
Manoel Juruna que ele não
sabia o que pensar, pois as
ONGs críticas a Belo Monte
não o ajudavam e a Eletronorte lhe deu um barco.
"A aldeia tá rachada, porque tem outro líder que é totalmente contra a usina. Lula
está dividindo os índios."
A Eletronorte, por meio de
sua assessoria, negou estar
envolvida na cooptação de
índios para o apoio a Belo
Monte: "Não faz parte da política da Eletrobras/Eletronorte, no trato com comunidades indígenas, "dar presentes"... A empresa nega, categoricamente, quaisquer
envolvimentos com grupos
indígenas no sentido de
aprovar ou reprovar questões
afeitas a Belo Monte".
A Funai afirmou que "desconhece qualquer tipo de
ação de cooptação em troca
de apoio para a construção
da usina. Bem como discorda
desse tipo de atitude".
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