São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2010

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Emprego e nativismo sustentam idolatria a Lula em Pernambuco

Investimentos em Suape e no sertão e volta às origens movem popularidade recorde no país

Aliado incondicional do governador Eduardo Campos, presidente quase dobrou visitas ao Estado no 2º mandato

FABIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A PERNAMBUCO

Às margens da rodovia estadual PE-60, numa região próxima a Recife dominada secularmente pela monocultura da cana, foi inaugurado no fim do ano passado um shopping center.
Os canaviais ainda sobressaem na paisagem, mas cedem cada vez mais espaço a máquinas pesadas.
Entre Cabo de Santo Agostinho, a cidade do shopping, e Ipojuca, alguns quilômetros adiante na estrada, está o complexo industrial de Suape, em torno do porto homônimo, onde grandes obras -como a refinaria Abreu e Lima- e a instalação de empresas -estaleiro Atlântico Sul, Petroquímica Suape, um moinho da Bunge, entre outras- aquecem a economia e geram cerca de 30 mil empregos diretos.
Em 2009, apesar do refluxo da crise, o número de postos de trabalho em Pernambuco cresceu 4,85% (56% acima da média nacional).
Graças principalmente ao polo de Suape e a obras na região de Salgueiro, no Sertão, continua a crescer.
Silvânia Paz, 26, ensino médio completo, trabalha numa loja de roupa masculina do tal shopping no Cabo.
Recebe um salário mínimo mais comissão, cerca de R$ 800 mensais, 60% a mais do que na ocupação anterior, numa farmácia. Todos os parentes estão empregados.
No outro corredor, Zuleide Laurentino, 21, conseguiu seu primeiro trabalho com carteira assinada, como vendedora numa loja de sapatos.
Mais que a bonança, as une o culto ao presidente Lula, a quem atribuem a arrancada do lugar.

LABORATÓRIO
A região é um laboratório da popularidade de Lula em Pernambuco, Estado em que seu governo bate recorde de aprovação (88%, segundo pesquisa Datafolha).
"Antes, na entressafra da cana, era todo mundo desempregado. O povo aqui tem quase a obrigação de votar em Dilma, por tudo que Lula trouxe para cá. Gosto de Marina, mas tô com Dilma só por ele", disse Genivaldo José da Silva, dono de uma venda no centro de Ipojuca.
Na praia de Suape, o barqueiro lulista Adélson Porfírio de Souza, 34, diz que não vota em José Serra (PSDB), que "quer acabar com o Bolsa Família". Seus parentes trabalham no novo estaleiro, sua mulher recebe o benefício (dois filhos na escola) e ele sobrevive do turismo.

NATIVISMO
Se a economia e a geração de empregos são a explicação mais evidente para o lulismo no Estado, há fatores bem menos palpáveis.
Questionados a respeito, o governador Eduardo Campos (PSB), candidato à reeleição, e seu adversário Jarbas Vasconcelos (PMDB) apontam de bate-pronto o fato de Lula ser pernambucano.
Pode parecer retórica, diante do fato de que o presidente saiu menino de lá e fez a vida em São Paulo.
Mas, num Estado onde o nativismo é herança do século 17, onde a população sabe cantar o hino estadual e ostenta como pode sua bandeira, não é simples assim. Ao afinar-se com Campos, Lula também promoveu uma volta às origens. Em seu primeiro mandato, com Jarbas no governo estadual, fez 14 visitas oficiais ao Estado.
No segundo mandato, com o aliado no cargo, Lula quase dobrou as visitas: foi 23 vezes a Pernambuco. Só neste ano já foram sete visitas -é o terceiro Estado mais visitado, só perdendo para São Paulo e Rio de Janeiro.
Em agosto, estudantes de uma escola técnica de Pesqueira (a 209 km de Recife) viajaram 300 km no sertão até Salgueiro só para ver de perto o presidente, que foi à cidade visitar obras e inaugurar outra escola técnica.
"Para nós, ele é quase um parente", disse o estudante Guilherme Diniz, 18. "O fato de ele ser de Caetés faz o pernambucano gostar ainda mais dele", afirmou. "Lula viveu na região e conhece bem o sertanejo. Ele é um caso de superação, do nordestino que batalhou e venceu. É um exemplo para nós."


Colaborou FABIO GUIBU , de Recife


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