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Influência de verde no segundo turno será relativa, afirmam especialistas
CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
A análise das eleições presidenciais desde 2002 indica
que Marina Silva (PV) herdou
votos de dissidentes tucanos
e petistas e que a ascendência da candidata sobre esse
eleitorado no segundo turno
deve ser relativa, afirma o
cientista político Cesar Romero Jacob, da PUC-RJ.
A influência do PV, que
não conseguiu aumentar sua
bancada federal (de 14 deputados) apesar da votação de
Marina, tende a ser menor
ainda, diz Jacob, autor de "A
Geografia do Voto nas Eleições Presidenciais: 1989-2006".
"Tirando 1989, quando
Leonel Brizola transferiu os
votos maciçamente para Lula no segundo turno, não
existe outro caso parecido.
Em 2002, Ciro Gomes e Anthony Garotinho tiveram juntos cerca de 30% dos votos
no primeiro turno e recomendaram voto em Lula, mas metade foi para o Serra", afirma.
Ao analisar as séries históricas, Jacob aponta que Dilma (PT), com 46,9% dos votos, ficou no patamar que Lula teve no primeiro turno em
2002 (46,4%) e também em
2006 (48,6%).
Marina, com 19,3%, atingiu pouco mais do que a soma dos votos dos ex-petistas
Heloísa Helena (PSOL) e Cristóvam Buarque (PDT) no primeiro turno de 2006
-9,5%-, com os 9 pontos
que separaram a votação de
José Serra (PSDB) agora,
32,61%, da do tucano Geraldo Alckmin naquele ano
(41,62%).
Isso não significa, pondera
o cientista político, que houve uma migração exata desses eleitores. Mas, uma vez
que o voto propriamente ambientalista é reduzido, a comparação mostra que o apoio
de tucanos e petistas insatisfeitos foi importante para o
desempenho da candidata
do PV -o presidenciável do
PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, teve só 0,87%.
OUTROS FATORES
Além dessa confluência,
ele aponta mais três possíveis fatores que pesaram na
votação de Marina:
1) Os dons pessoais e oratórios da candidata, que é
"boa de fala" e livre do "engessamento" imposto a Dilma e Serra pelo marketing
político;
2) A ação de oligarquias regionais, nos Estados do Norte e Nordeste onde a verde teve mais votos do que o previsto, interessadas em aumentar o poder de barganha,
sobretudo com Dilma;
3) As manifestações nas
últimas semanas de bispos
católicos e pastores evangélicos contra a petista.
"A Marina não é dona dos
seus votos. Um segundo turno foi do interesse de muita
gente", diz Jacob.
Alberto Almeida, do instituto Análise, afirma que não
há evidência de que fatores
morais ou religiosos tenham
favorecido Marina em detrimento de Dilma. "É como o
boato de que Serra ia acabar
com o Bolsa Família."
Ele acredita que as denúncias que derrubaram a ex-ministra da Casa Civil Erenice
Guerra tiraram votos da petista em favor de Marina, em
especial entre eleitores com
renda de 5 a 10 mínimos e
que têm de 18 a 30 anos. "Há
forte correlação entre essa
faixa de idade e o aumento
do nível educacional da população", afirma.
Mas Almeida também
acha difícil antecipar para
onde vão os votos da verde:
"Carisma não migra".
Embora acredite que o tucano será o maior beneficiário, ele calcula que, para chegar a mais da metade dos votos válidos, Dilma só teria
que ganhar 15% dos votos da
verde. "Serra tem que ter
85% e ainda tirar votos de
pessoas que votaram em Dilma. Não é trivial", afirma.
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