São Paulo, domingo, 06 de junho de 2010

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JANIO DE FREITAS

Um momento veloz


Por três dias a atenção do mundo concentrou-se em um pequeno navio rumo a uma estreita faixa de terra


DURANTE TRÊS dias, as atenções de todos os continentes concentraram-se em um pequeno navio no mar Mediterrâneo rumo a uma estreita faixa de terra seca e humilhada. Às vezes, parece que o mundo tem consciência da sua unidade, do destino comum apesar da fúria humana. É uma reação passageira. Nada que preocupe de fato. Tanto que Barack Obama tratou de distrair parte das atenções ansiosas, que o comprometem e ao seu país, com outra visita ao desastre petrolífero onde nada tem a fazer e a dizer. Mas a isso chamamos governar.

ATRAÇÕES
À falta de explicações objetivas pelos setores oficiais que existem para proporcioná-las, sobra a suposição de atrações magnéticas entre as candidaturas de José Serra e histórias de golpes abaixo da cintura eleitoral.
Em 2002, quando Roseana Sarney parecia um empecilho à candidatura de Serra à Presidência, houve a jamais explicada operação em que a Polícia Federal adivinhou a existência de dinheiro misterioso no escritório maranhense do marido da governadora, fez a invasão e o que chamou de flagrante. Não muito depois, a PM descobriu em São Luís um bunker de espionagem e ações obscuras. Era da Polícia Federal.
Na candidatura posterior ao governo de São Paulo, Serra e nós outros pudemos acompanhar parte da jamais explicada operação de descoberta, filmagem e captura de uma maleta com dólares e de seus portadores, em um hotel paulistano. Foi o caso dos "aloprados", no qual a Polícia Federal de São Paulo e, em Mato Grosso, ainda a PF e a Procuradoria Regional da República tiveram participação bastante original, com descobertas extraordinárias, embora jamais comprovadas. Feito o escarcéu, com os efeitos conhecidos, a história pôde evaporar. Tal como a anterior.
Aí está a história de um dossiê, por cuja responsabilidade José Serra acusa Dilma Rousseff. Os ingredientes compõem uma salada mal feita, em que se misturam escritório de comunicação, uma casa de supostas operações em Brasília, pessoas da equipe de Dilma, dólares e contrabando de dinheiro. Tudo, diz o primeiro capítulo da história, para comprometer a filha e o genro de Serra e sua empresa no exterior. E daí tornar vítima o próprio Serra.
Por ora, os pretensos dossiês já comprovados por circulação real são contra Dilma Rousseff, com pelo menos um ponto de procedência identificado: gabinetes do DEM no Congresso. O bastante para comprovar a regra - sem necessidade da exceção confirmadora.

MEMÓRIAS
Um dia, Lula proclamou: "Quem vai decidir sou eu". Era a libertação ou extradição do Cesare Battisti envolvido em quatro homicídios na Itália, lembra-se?
Um dia, Lula proclamou: "Quem vai decidir sou eu". Era a compra de 36 aviões Rafale que Lula prometeu a Nicolas Sarkozy, lembra-se?
Ou os brasileiros têm memória curta, como dizem, e Lula não precisa esperar tanto pelo esquecimento das controvérsias, para fazer o que está previsto; ou, se a memória não é tão curta, não adianta esperar tanto para fazer o que quer ou o que deve.


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