São Paulo, terça-feira, 06 de setembro de 2011

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ANÁLISE ORÇAMENTO

Conflito entre Dilma e STF é normal em uma democracia

Judiciário e Executivo têm o direito de opinar; quem decide é o Congresso


O JUDICIÁRIO TEM DIREITO DE PROPOR, E DILMA TEM O DIREITO DE OPINAR. QUEM DECIDE É O CONGRESSO

JOAQUIM FALCÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando o Judiciário propõe incluir no Orçamento de 2012 um aumento de 14,79% no salário dos juízes e serventuários, e o Executivo é contra, estamos diante de um conflito institucional ou apenas diante do funcionamento rotineiro da democracia?
No Estado Democrático de Direito o Judiciário tem direito de propor. Mas a presidente tem também o direito de opinar. Entre os dois, o Congresso decide. Se este roteiro constitucional for cumprido, quem tem a palavra final não é o Supremo. É o Congresso.
O que está em jogo nesta divergência? Uma questão de prioridades e de valores.
A presidente Dilma foi muito clara. O Brasil é como a casa de qualquer um de nós: não pode gastar em tudo que precisa. Em geral, a receita é menor do que as despesas.
Assim como uma família, o Brasil não pode fazer tudo: tem de escolher. Ela escolheu. Acredita que juízes e serventuários já são bem pagos.
Entre aumentar o salário deles e gastar em educação, saúde e infraestrutura, prefere estas a aquele. O Judiciário diz que precisa de aumento para se ter uma Justiça melhor. A disputa é simples: é sobre eficiência e valores.
O brasileiro acredita que o Brasil terá uma Justiça melhor se aumentar os salários de juízes e procuradores? Será que a impunidade e a corrupção serão melhor combatidas com maiores salários?
Ou se terá uma educação e saúde melhores se aumentarem os investimentos em escolas e hospitais? Esta é a decisão que o Congresso terá de fazer. Tudo muito simples.
O Brasil já ganhou com essa discussão: a mídia, a opinião pública e os três Poderes discutindo o Orçamento.
Mas o Brasil é também uma família com muitas dívidas no cartão de crédito. Tem de pagar os juros da dívida, e tem de sustentar famílias que já produziram e não mais produzem: aposentados. O que era simples fica complexo.
O que você prefere? Aumentar os salários de Justiça, fazer investimentos em escolas e hospitais, pagar o banco ou reduzir as aposentadorias? Faça a sua escolha.

JOAQUIM FALCÃO é professor de direito constitucional da FGV Direito-Rio


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