São Paulo, quarta-feira, 06 de outubro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Candidatos ainda não têm plano de governo

A 25 dias da eleição, Dilma e Serra ainda não apresentaram seus programas definitivos, prometidos para agosto

Petista registrou versão polêmica, que não tinha lido, e o trocou por outro no mesmo dia; tucano só enviou dois discursos

DE SÃO PAULO

A 25 dias da eleição, os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) ainda não apresentaram seus programas de governo definitivos para os eleitores.
Por exigência da legislação eleitoral, ambos tiveram de listar algumas propostas ao Tribunal Superior Eleitoral quando registraram suas candidaturas, mas cumpriram essa formalidade com textos arrumados às pressas.
Em 5 de julho, Serra entregou ao TSE dois discursos, proferidos em encontros partidários em 10 de abril e 12 de junho, que em tese resumem suas propostas de governo. O programa definitivo, coordenado por Francisco Graziano Neto, deveria ter ficado pronto em agosto último, mas até hoje não foi mostrado.
Os dois discursos não apresentam diferenças de conteúdo: nos dois Serra fala da situação do país, ataca o governo Lula e discorre sobre sua vida e suas realizações.
O segundo deles, feito na convenção do PSDB que aprovou sua candidatura, é um pouco mais incisivo e compara o presidente Lula ao rei francês Luís 14: "O tempo dos chefes de governo que acreditavam personificar o Estado ficou pra trás há mais de 300 anos. Luis 14 achava que o Estado era ele. Nas democracias e no Brasil, não há lugar para luíses assim".
Na manhã de 5 de julho, a assessoria de Dilma protocolou no tribunal as teses aprovadas pelo PT no seu congresso, em 20 de fevereiro.
O programa original de Dilma incluía a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais, o controle social dos meios de comunicação, a criação do imposto sobre as grandes fortunas e a revogação da lei que torna propriedades invadidas por sem-terra indisponíveis para a reforma agrária.
Diante da repercussão negativa das propostas, o PT recuou no mesmo dia: retirou o texto e apresentou nova redação ao TSE no início da noite, suprimindo os pontos mais polêmicos. Dilma, que havia rubricado o programa, admitiu que não o tinha lido: "Só rubriquei, não assinei".
A campanha decidiu então redigir um novo documento, definitivo, que incorporasse as sugestões -mais moderadas- dos partidos aliados.
Tal como o de Serra, o novo programa, com "13 compromissos para o país" (em referência ao número da legenda), também deveria ter sido concluído em agosto, mas isso não aconteceu.
Até agora as propostas dos dois candidatos resumem-se às intenções registradas pelas campanhas em julho.
O presidente do PT, José Eduardo Dutra, disse ontem que o partido decidiu redigir um programa de governo para a disputa do segundo turno. Não há, porém, data para a divulgação do documento.

ABORTO
O programa de Dilma, bem mais extenso (tem 23 páginas), menciona o aborto no item 57: "O Estado brasileiro reafirmará o direito das mulheres ao aborto nos casos já estabelecidos pela legislação vigente, dentro de um conceito de saúde pública".
Os discursos de Serra, bastante genéricos, não fazem menção ao tema. Citam suas iniciativas no ministério e prometem criar 150 AMES (policlínicas) em todo o país.
O programa de Dilma se divide em várias partes. A introdução trata da "grande transformação" operada por Lula. Seguem-se 16 seções, sobre infraestrutura, saúde, educação e assim por diante.
Já os discursos de Serra em geral se limitam a apontar problemas estruturais do país -"há uma quase unanimidade a respeito das carências da infraestrutura brasileira"-, mas sem detalhar as propostas de intervenção.
Na parte econômica, por exemplo, seus dois discursos dedicam 517 palavras para dizer o que pretende fazer. O programa de Dilma gasta cinco páginas, que oferecem só uma lista de metas genéricas, sem a exposição das medidas práticas para alcançá-las.


Texto Anterior: Itamar diz que Serra tem de "mostrar a que veio"
Próximo Texto: Coordenador do comitê de Dilma apoiava aborto
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.