São Paulo, quinta-feira, 06 de outubro de 2011

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Assembleia ameaça punir delator, mas teme nova acusação

Colegas ameaçam cassar mandato de deputado que comparou Assembleia a camelódromo se ele não comprovar acusações

Bancadas temem que Roque Barbieri aponte nomes ao depor sobre venda de emendas ao Orçamento do Estado

SILVIO NAVARRO

DE SÃO PAULO

As declarações do deputado Roque Barbiere (PTB) comparando a Assembleia Legislativa de São Paulo a um camelódromo deflagraram uma crise na Casa, com protestos na base governista e na oposição e ameaças de abertura de processo de cassação de mandato por quebra de decoro parlamentar.
Em reuniões reservadas, entretanto, integrantes dos partidos revelaram o temor generalizado nas bancadas de que Barbiere possa ampliar o incêndio caso se sinta acuado pelos colegas.
A principal preocupação é que o petebista aponte nomes de deputados que supostamente teriam negociado emendas ao Orçamento com empreiteiros e prefeitos.
Hoje, o deputado enviará um depoimento por escrito ao Conselho de Ética da Casa. Segundo seus aliados, ele dirá que a intenção sempre foi acabar com o sistema de indicações de emendas por deputados, que considera passível de corrupção, e que não citará nomes de colegas.
Cada um dos 94 deputados paulistas pode apresentar ao governo do Estado indicações para a transferência de R$ 2 milhões em verbas para obras em seus redutos eleitorais.
Em agosto, Barbiere afirmou que até 30% da Assembleia negociava essa cota com empreiteiros.
Ao voltar a falar sobre o tema, anteontem, o deputado disse que "cada um [deputado] tem uma maneira, cada um tem um preço" e que "isso é igual camelô, cada um vende de um jeito".
Ontem, ele passou o dia trancado em seu gabinete. Só recebeu o líder da sua bancada, Campos Machado, o único a defendê-lo publicamente. Pouco antes das 20h, Barbiere deixou o gabinete negando estar pressionado. "Estou sempre tranquilo."
Em breve pronunciamento no plenário, Campos Machado fez um pedido de desculpas em nome de Barbiere, mas terminou com uma frase interpretada nos bastidores como ameaça velada.
"Defendo que a apuração seja feita de maneira rigorosa. Mas insinuações, provocações, como líder da bancada, não vou aceitar", disse. "Punam os culpados, se houver, mas não atire uma pedra sem ter certeza do alvo que vai atingir."
Segundo ele, Barbiere "não teve a intenção de constranger nem incriminar" os colegas com as declarações que fez anteontem.
O presidente da Assembleia, Barros Munhoz (PSDB), afirmou que Barbiere poderá responder por quebra de decoro se não explicar as acusações. "Ou ele se explica, ou é passível de punição", disse. "A frase é caluniosa. Uma calúnia contra a Casa é quebra de decoro."
Processos por infração ao decoro parlamentar preveem como punição maior a cassação do mandato.
O PT voltou a defender a abertura de uma CPI, que esbarra na dificuldade em reunir 32 assinaturas necessárias devido à maioria governista.
"A CPI pode convocar empreiteiros, prefeitos, porque o Conselho de Ética tem limitação", disse o líder da bancada, Enio Tatto.
"A acusação é extremamente vazia e fútil. Ele tem que provar o que está falando", afirmou Orlando Morando, líder do PSDB.


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