São Paulo, domingo, 06 de novembro de 2011

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ELIO GASPARI

Novidade, a filantropia estatizada


Doutora Dilma quer mandar 100 mil brasileiros para o exterior, mas pode criar mais uma demanda de faxina

O COMISSARIADO do Planalto quer estatizar a filantropia. Doutora Dilma teve a ideia de criar um programa para colocar 100 mil brasileiros em universidades estrangeiras até 2014 e pediu à iniciativa privada que cuide de 25 mil bolsas. A conta está estimada em R$ 3,1 bilhões.
Em 2010 os brasileiros em universidades estrangeiras eram 8.800, contra 128 mil chineses. Pode-se sustentar que a meta é ambiciosa, mas quando o companheiro Deng Xiaoping lançou sua ideia, nos anos 70, também duvidaram dele.
O projeto está na estrutura do MEC, da Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a Capes, e do CNPq. Ambos prometem 7.300 bolsas neste ano. A ver. Para cumprir a meta precisariam escolher mais 30 mil bolsistas anuais entre 2012 e 2014. Salta aos olhos que é muita areia para pouco caminhão.
Apareceu um cheiro de convênio do Ministério dos Esportes nessa boa ideia. O comissariado está operando suas expectativas junto aos empresários a partir da Casa Civil (por onde passam seus pleitos), tratando com centrais corporativas, como a Febraban, a associação dos empreiteiros e a Confederação Nacional das Indústrias. Doutora Dilma disse o seguinte: "É um desafio para o setor privado, especialmente para a Febraban".
A filantropia empresarial brasileira é esquálida e são poucas as boas instituições que lidam com bolsas. Nelas, vigora uma preliminar: só julgam propostas de candidatos que já foram aceitos pela universidade estrangeira, e não fazem negócio com biboca. Em vez de pedir recursos, o governo também deveria pedir gestão.
Se os empresários forem chamados para botar dinheiro num panelão de entidades, o projeto acabará mandando estudantes ou professores desqualificados para vilegiaturas e cursos sem importância em universidades irrelevantes.
As universidades europeias e americanas estão caçando recursos. As boas querem dinheiro, mas não abrem mão dos seus critérios de seleção. Herdeiros de algumas das maiores fortunas brasileiras já foram recusados na liga das campeãs americanas.
A doutora Dilma teve duas boas ideias: mandar brasileiros para o exterior e cutucar a filantropia empresarial. Pelo andar da carruagem, criará demanda de faxina.

FRITURA
As centrais sindicais temem que suas contas sejam usadas como óleo na fritura do ministro Carlos Lupi, do Trabalho.
Esquisito, porque Lupi teme ser frito no óleo das contas das centrais sindicais.

NÚMEROS
Um curioso produziu um paralelo maroto para comprovar que o bilionário Warren Buffet estava mais do que certo quando disse que os derivativos da banca eram "armas de destruição em massa".
Desde 2008 6,4 milhões de famílias americanas perderam suas casas.
Durante a Segunda Guerra Mundial os bombardeios alemães destruíram um milhão de residências em Londres. Na volta, estima-se que as bombas aliadas tenham destruído 3,6 milhões de casas na Alemanha.
O paralelo é maroto porque as casas esvaziadas pelos despejos receberam outros moradores.

CUBA LIBRE
Raul Castro liberou a compra e venda de casas em Cuba. Em tese, cada família poderá ter um imóvel na cidade e outro para fins de semana. Na prática, com o dinheiro do primo Pepe, que vive como aposentado em Miami, Manuel comprará um apartamento velho em Havana e uma casa na praia. Pepe reformará o imóvel da praia e viverá como um rei. Os dois farão o melhor negócio de suas vidas.
Em Havana, um apartamento perto da praia custa o mesmo que uma casa no Morro do Alemão. Numa praia remota, nem isso.
O próximo lance poderá ser a emissão de um papel podre indenizando os donos de propriedades expropriadas nos anos 60. Esses títulos, negociados a 5% de seu valor em Miami, atrairiam investidores corajosos para entrar no mercado imobiliário cubano.

CASA DE OBAMA
Para se entender a Casa de Mãe Joana que foi a Casa Branca do companheiro Obama durante os primeiros anos do seu governo:
A certa altura foi necessário fazer um agrado no professor Larry Summers, o principal assessor econômico do presidente. Summers sentia-se desprestigiado e tinha três pleitos:
1) Jogar golfe com Obama.
2) Ser chamado para as fotografias em cerimônias importantes.
3) Carro oficial com motorista.
Em 2007, antes de ir para o governo, Summers ganhara US$ 5,2 milhões dando consultoria de um dia por semana a um fundo de investimentos. Ficou sem o carro e, mais tarde, sem o cargo.
Mais sobre a Casa de Obama, no livro "Confidence Men", de Ron Suskind, a US$ 12,00 na versão eletrônica.

MADAME NATASHA
Madame Natasha fechou sua ONG de defesa do idioma, mas continua batalhando. Ofereceu uma de suas bolsas de estudo aos gênios do banco Itaú que, na segunda-feira, soltaram uma nota dizendo que "houve intermitência na disponibilidade do site internet 30horas".
Eles queriam dizer que o sistema falhou por algumas horas, mas preferiram arriscar intermitência de disponibilidade de atenção dos outros.

24 HORAS
Nova York tem a loja da Apple funcionando 24 horas.
São Paulo tem uma novidade, diferente. Um laboratório (Cura) de exames clínicos que funciona dia e noite.
Primeiro foram as filas do SUS, que se medem em meses. Depois vieram as esperas dos laboratórios famosos que já chegaram a semanas. Criaram a ressonância magnética da madrugada.
Talvez seja a única cidade do mundo com esse tipo de serviço.


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