São Paulo, segunda-feira, 07 de junho de 2010

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PF infla número de operações especiais

Atividades rotineiras passaram a ser contabilizadas em balanço do órgão

Em abril, Dilma usou números para comparar gestões de Lula e FHC; polícia diz que não tem intenção de manipular

RUBENS VALENTE
DE SÃO PAULO

Ao citar, em entrevistas concedidas em abril, os feitos da Polícia Federal na gestão Lula, no contexto de uma crítica ao governo FHC, a pré-candidata Dilma Rousseff (PT) informou o número de 1.012 "operações especiais" realizadas até aquele momento no período 2003-2010.
O mesmo número consta do site da PF. Contudo, levantamento feito pela Folha indica que o termo "operações" hoje serve para descrever atividades rotineiras do órgão, como fiscalização em áreas indígenas, blitz em empresas de segurança e até reforço no policiamento para o dia de eleições.
No governo Lula, a PF cresceu em pessoal (de 9.231 servidores, em 2002, para 14.295 em 2010) e investimentos (de R$ 141 milhões, em 2002, para R$ 227 milhões em 2009), alcançando repercussão inédita na história do órgão, com prisões em massa e acusações contra congressistas, juízes e ministros.
Mas, nos últimos anos, os balanços oficiais sobre as operações vêm sendo turbinados, de modo que as investigações aparecem em crescimento contínuo.
Atividades que todos os governos anteriores realizaram com certa frequência são agora contabilizadas como operações, com direito a nome próprio.
Entre 2008 e 2010, período em que a PF informa ter realizado 580 operações, a reportagem contou 94 casos (ou 16% do total) que entrariam facilmente na lista de atividades corriqueiras do órgão.

RINHA DE CANÁRIOS
Grande parte das operações hoje está relacionada à prisão de narcotraficantes -atividade historicamente desempenhada pela PF, mas de difícil comparação com os governos anteriores, que não divulgavam balanços sobre operações especiais.
Cada ação para destruir pés de maconha nas regiões Norte e Nordeste, atividade realizada desde, pelo menos, os anos 80, agora é contabilizada como uma operação. Em 2008, a PF contabilizou cinco casos do gênero.
Outras cinco foram o fechamento de rádios piratas. No balanço entraram lacres de garimpos ilegais e uma ação para "coibir construção de casas irregulares" em área de preservação.
Em 2009, o balanço da PF incluiu a prisão de um grupo que realizava rinhas de canários, a prisão de um agente penitenciário que inseria drogas num presídio e a interdição de um posto de combustíveis que vendia gasolina adulterada no Rio.
Neste ano, a PF conta fiscalizações sobre pescadores usando uma malha fora do tamanho permitido e sobre um depósito de curtume que guardava alimentação com prazo de validade vencido.
Outra prática comum nos balanços é contabilizar o desdobramento de uma operação já desencadeada como uma nova. Algumas receberam até cinco edições.
Operações desse gênero são, em geral, tentativas de prender novamente algum investigado que foi solto pela Justiça, ou de investir contra membros de uma mesma quadrilha já mapeada na operação anterior.


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