São Paulo, terça-feira, 07 de junho de 2011

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ANÁLISE POLÍTICA EXTERNA

Imagem de Dilma fora do país depende da economia

Brasil já tem visibilidade no exterior e precisa agora de reconhecimento

LULA É UM TEATRO DIFÍCIL DE SER SUBSTITUÍDO PORTANTO, DILMA ESCOLHER SEU PRÓPRIO ESTILO É UMA BOA IDEIA

NELSON DE SÁ
ARTICULISTA DA FOLHA

Durante o Carnaval, na Barreira do Inferno [centro de lançamento da FAB], Dilma Rousseff proibiu a entrada de celulares com câmera, para evitar imagens do refúgio familiar.
Em férias no Havaí, no ano passado, Barack Obama enfrentou questionamento semelhante, de que havia se fechado na família, deixando em suspenso a mídia e o mundo, diferentemente dos antecessores.
Nas respectivas campanhas presidenciais, a brasileira e o americano também haviam levantado dúvidas quanto à pouca desenvoltura no trato pessoal, em contraste com Lula ou Bill Clinton. Seriam reservados demais, até tímidos.
O paralelo termina aí. Em mais de dois anos, Obama aprendeu, aos poucos, a explorar o palco. Viaja hoje em campanha permanente, com a família, inclusive. Dispõe-se a contar piadas como um "stand up", preparadas por redatores e levadas ao teleprompter.
Dilma começa a mudar, também aos poucos. No palco global, recebeu Obama, foi à China e almoçou com Hugo Chávez. Mas não é Lula nem Obama -o que entra na conta, ao menos em uma primeira análise de sua performance por observadores como o economista Jim O'Neill.
"É uma personalidade diferente e parece ter escolhido um estilo diferente", diz o executivo do banco Goldman Sachs, que criou, há dez anos, a narrativa Bric, tão explorada pelo antecessor.
"Lula é um teatro difícil de substituir, penso que é o líder mais bem-sucedido do G20 da década, portanto, escolher seu próprio estilo é provavelmente uma boa ideia."
O sociólogo argentino Juan Gabriel Tokatlian, professor de relações internacionais da Universidad Di Tella, concorda. "Em termos de estilo, mostrou um modo próprio, singular -distinto, porém complementar ao de Lula. Não muda as linhas básicas, mas não é idêntica. Entendeu que o Brasil já tem visibilidade, agora precisa de reconhecimento."
Ambos também concordam que sua prioridade é -e precisa ser- a economia, até porque "sabe que os limites da projeção externa brasileira são hoje mais internos", diz Tokatlian.
"A força da moeda é agora um dilema cíclico crucial", alerta O'Neill. "E trazê-la para baixo sem causar inflação ou outros problemas é algo que ela tem de fazer."
Obama, ao que parece, pode prescindir de economia forte. Dilma, não.
Aos dois observadores se une João Santana, que atuou como marqueteiro da presidente e do antecessor e também do atual presidente de El Salvador, Mauricio Funes. "A imagem de Dilma no exterior vai depender muito da imagem que o Brasil firme no curto prazo para o mundo", afirma.
"Mas, seguramente, Dilma tem um perfil muito apropriado para expressar a nova fisionomia que o Brasil vem formando, de um país social e tecnologicamente antenado. Uma coisa é certa: em termos de imagem, ela não terá, jamais, a incompletude de uma Bachelet, nem o coquetismo deslocado de uma Cristina. Tampouco será uma Thatcher dos trópicos."


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