São Paulo, terça-feira, 07 de junho de 2011

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Garçom de bandeja vazia

Conhecido por só anotar pedidos, ministro figura em listas de demissões em eventual reforma na coordenação política

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
NATUZA NERY
DE BRASÍLIA

Quanto mais forte era o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, mais fraco ficava o articulador político oficial do governo, o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, que ganhou no Congresso o indelével apelido de "garçom" -é o que "só anota os pedidos".
Antes da posse, Luiz Sérgio já dava mostras de que ficaria longe da cozinha do poder, mesmo tendo uma sala no Planalto. Foi o último ministro escolhido, depois de uma disputa infernal no PT.
Vem daí uma charge que Luiz Sérgio exibe na parede do gabinete: Dilma e todos os ministros fazendo pose para a foto oficial da posse, com ele correndo, esbaforido: "Esperem por mim!"
A primeira gafe foi já na primeira reunião da coordenação política. Em entrevista aos jornalistas, Luiz Sérgio chamou a presidente de "ministra" não apenas uma, mas três vezes.
Resultado: a assessoria de Dilma o encaminhou para um treinamento com a jornalista Olga Curado, dona de uma técnica heterodoxa de relaxamento que inclui cambalhotas e gritos.
Luiz Sérgio não tinha -como não tem até hoje- a menor proximidade com a chefe. Até porque, na prática, seu chefe é Palocci, que abre a porta do gabinete presidencial e fala direto com Dilma, enquanto ele tem de pedir, marcar, aguardar hora.
Nas primeiras vezes que foi, aliás, levou uma bronca. O desafio era aprovar o salário mínimo. E o que fez? Marcou a primeira reunião com... a oposição. Ao saber, Dilma reagiu: "Ficou maluco?"
O argumento dele foi até bem razoável: afinal, a base aliada tem obrigação de votar com o governo, o importante era conquistar votos no terreno adversário. "Se eu conseguir um voto da oposição, eu já me dou por satisfeito", disse.
Mas Dilma não se convenceu, e a rotina de broncas nem surpreende mais. Daí porque Luiz Sérgio frequenta todas as listas de demissões na hipótese de Palocci sair e abrir uma reforma na coordenação política.
Na lista de apostas como novo ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, atualmente na Saúde, é tido como pule de dez.

MISSÃO
Luiz Sérgio construiu sua carreira política como líder metalúrgico, mas mantendo um estilo discreto, desses que jamais levanta a voz.
A esse traço "low profile" junte-se o histórico da pasta que ocupa. A média de permanência dos seus cinco antecessores é de apenas um ano. Ou seja: o cargo é o menos longevo da Esplanada.
Para ele, sua missão era basicamente fazer com que o primeiro mandato de Dilma fosse tão tranquilo como o segundo mandato de Lula na seara política. Aparentemente, nem isso está dando certo.
Na prática, este primeiro semestre está sendo marcado pela crise Palocci, a derrota da votação do Código Florestal na Câmara, o avanço das mudanças nas regras das medidas provisórias no Senado e, enfim, a crise do PMDB com o governo e o PT.
Palocci nunca quis dividir espaço, e o Congresso sabe muito bem distinguir, a olho nu, quem manda e quem obedece. Ou melhor: quem influencia Dilma e o que sai no "Diário Oficial". E não é Luiz Sérgio.
Quando a Folha revelou que Palocci multiplicara seu patrimônio por 20 em quatro anos, ele telefonou para o deputado Pepe Vargas (PT-RS) na liderança do PT na Câmara: "Não estou vendo nenhuma matéria no nosso site defendendo o Palocci". Ficou por isso mesmo. A cobrança não foi atendida.
O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), seu aliado na disputa contra o grupo do líder do PT, Paulo Teixeira (SP), lamenta: "Infelizmente, existe um movimento em setores do PT para queimá-lo". Ao que tudo indica, eles estão conseguindo.


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