São Paulo, domingo, 07 de agosto de 2011

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Experiência e afago a Lula embasaram escolha de Amorim

Dilma atende às lógicas profissional e política ao nomear o ex-chanceler para comando do Ministério da Defesa

Noções de hierarquia e disciplina, pilares do Itamaraty, ajudaram presidente a optar por ministro de antecessor

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
NATUZA NERY
DE BRASÍLIA

A escolha do ex-chanceler Celso Amorim para o Ministério da Defesa, uma área cheia de peculiaridades, atendeu a duas lógicas: a política e a profissional.
Amorim tem status, é experiente e considerado ousado e nacionalista nas relações com os EUA. São qualidades caras aos militares.
Depois da queda de três ministros herdados do governo Lula -Antonio Palocci, Alfredo Nascimento e Nelson Jobim-, a presidente Dilma precisava também desfazer a intenção de que quer desmontar o time do antecessor.
Amorim foi um dos raros ministros a permanecer no mesmo cargo nos oito anos de Lula, autor do convite para Nelson Jobim continuar na Defesa com Dilma.
O ex-chanceler e Dilma nunca foram próximos quando colegas de ministério, mas, além do fator Lula, pesou a favor dele o fato de Defesa e Itamaraty terem várias intersecções: acordos bilaterais com os EUA, negociações na área nuclear e discussões sobre o mar territorial brasileiro e sobre a fronteira terrestre.
Contou também o perfil profissional e psicológico: Amorim é de uma instituição fortemente guiada pela hierarquia e pela disciplina, tal como a militar.

RESISTÊNCIAS
Um senão de militares a ele vem justamente da versão difundida em Brasília de que Amorim subverte a hierarquia em favor da "intuição".
A primeira embaixada do atual chanceler Antônio Patriota foi a de Washington, a principal do mundo, por um voluntarismo de Amorim.
O ex-chanceler não foi mantido no Itamaraty nem ganhou nenhum cargo no governo Dilma porque a presidente o considerava muito "altivo", falante, autossuficiente e voluntarioso.
Mas, agora, esses "defeitos" viraram qualidades na hora de escolher um comandante civil para os militares.
Na Marinha, não houve reações à saída de Jobim nem à chegada de Amorim. Na Aeronáutica, não há restrições.
Quando chanceler, ele viajou 597 vezes usando aviões e pilotos da FAB que o elogiam. "O principal instrumento de política externa são os aviões da FAB", declarou.
Amorim defendeu fortemente o comando brasileiro das operações de paz da ONU no Haiti, que garante treinamento e aumento de soldos para os militares.
As restrições a ele partem principalmente do Exército. Enquanto reclamam de "esquerdismo" -Amorim se filiou ao PT em 2010 e é próximo de Cuba, Venezuela e Irã, além de ter promovido a aproximação com a Líbia-, generais e subordinados não assimilam bem um diplomata mandando nas Forças.
O embaixador José Viegas caiu da Defesa com Lula justamente por incompatibilidade de estilo e de cultura com a caserna.
Jobim sempre sonhou ser chanceler, e Amorim já fora cogitado para a Defesa.
A preferência pelos caça Rafale, da francesa Dassault, continua. Além do gosto pelo poder e pela palavra, Jobim e Amorim são apelidados de francófilos. Para não dizer anti-americanos.


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