São Paulo, terça-feira, 07 de dezembro de 2010

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Relator do Orçamento beneficia amiga

Gim Argello repassa R$ 250 mil a ONG controlada por condenada na Justiça; ele diz que não pode ser responsabilizado

Oposicionistas pedem a extinção da Comissão de Orçamento e que Argello seja afastado da função de relator

BRENO COSTA
MARIA CLARA CABRAL
DE BRASÍLIA

O relator do Orçamento no Congresso, senador Gim Argello (PTB-DF), incluiu em sua relação de emendas para 2011 o repasse de R$ 250 mil para uma ONG controlada por uma amiga.
Ex-socialite em Brasília, Wilma Magalhães Soares, 48, foi condenada pela Justiça Federal por evasão de divisas na esteira do escândalo dos Anões do Orçamento, nos anos 90.
No ano passado, ela se filiou ao PTB, levada por Argello. Nas últimas eleições, tentou uma vaga na Câmara Legislativa do DF, mas foi barrada pela Lei da Ficha Limpa.
"Conheço ele já há muitos anos. Gim é muito meu amigo", disse Wilma.
"Em Brasília, se a gente não souber nada de política, tem que mudar de cidade. O que acontece? Tenho que fazer um pouco de política. [Argello] me deu a oportunidade de aprender um pouco."
Gim Argello, segundo reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo", destinou R$ 3 milhões em emendas de sua cota individual, neste ano, para entidades fantasmas no DF. Ele diz que não pode ser responsabilizado.
Wilma se define como "relações públicas" do Instituto Nacional do Turismo, oficialmente gerido por seu filho, o publicitário Alisson Magalhães, 26. A entidade funciona numa sala no Lago Sul, bairro nobre de Brasília.
Em 2007, Wilma passou seis meses presa. Segundo a Justiça, o ex-deputado João Alves, morto em 2004 e pivô do esquema, usava uma casa de câmbio em nome de Wilma e de seu ex-marido para enviar dinheiro ilegalmente para o exterior.
Questionada pela Folha se sabia a que se referia a emenda de R$ 250 mil incluída no relatório de emendas de Gim Argello, ela afirmou que era para o Ministério do Turismo, em projeto de "capacitação de taxistas".
Pelo relatório, a emenda é para o Fundo Nacional de Cultura, para "fomentos a projetos em arte e cultura".

REPERCUSSÃO
O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) vai pedir que o PSDB proponha, oficialmente, a extinção da Comissão de Orçamento do Congresso. A proposta, que não é nova, é de difícil realização.
O presidente do PPS, Roberto Freire, defendeu o afastamento de Argello da relatoria do Orçamento.
O Ministério Público no TCU (Tribunal de Contas da União) afirmou que vai investigar o caso. O procurador Marinus Marsico disse que vai solicitar hoje aos ministérios da Cultura e do Turismo cópias dos convênios.
Marinus afirmou que, em relação à conduta de Argello, cabe ao Legislativo apurar eventuais irregularidades.
O Senado esbarra numa questão prática para investigar Argello. Ele é o presidente interino do Conselho de Ética -órgão que está com boa parte de suas cadeiras sem indicação pelas siglas.


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