São Paulo, terça-feira, 08 de fevereiro de 2011

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Presidente de Furnas pediu cargo a Sarney

Grampos da PF mostram que, em 2008, Decat procurou senador e seus filhos Fernando e Roseana para atuar na Eletrobras

Recém-nomeado por Dilma, diretor da estatal admite ter contatado família para "quebrar resistências" a seu nome

ANDREZA MATAIS
DE BRASÍLIA
HUDSON CORRÊA
DO RIO

O engenheiro indicado pela presidente Dilma Rousseff para presidir a estatal Furnas, Flávio Decat, precisou apelar à família Sarney para obter cargo na Eletrobras.
A Folha teve acesso a dez diálogos, gravados em 14 de fevereiro de 2008 pela Polícia Federal, que mostram o esforço de Decat para tentar um emprego no segundo escalão do governo federal.
Nove destes diálogos são inéditos e um havia sido divulgado pela Folha em 2009.
Em 2008, a PF investigava suposto tráfico de influência de Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no setor elétrico. Durante a apuração, o celular de Fernando foi grampeado.
Com isso, foram gravadas conversas de Decat, que não era investigado, em telefonemas a Fernando para saber em que estágio estava sua nomeação para a Eletrobras.
A escolha de Decat para Furnas foi justificada pelo governo por ele ser um técnico competente.
Há dois anos, porém, ele não levou a presidência da Eletrobras. Assumiu o cargo de diretor de distribuição, criado especificamente para ele. Quem assumiu a estatal foi José Antonio Muniz, outro apadrinhado de Sarney.

TELEFONEMAS
Na primeira gravação de Decat para Fernando, o engenheiro busca informações sobre sua indicação.
Ele conta que combinou de conversar com Sarney. O local, a casa do senador, foi uma escolha de Roseana Sarney, à época senadora, por ser "mais preservado".
"As novidades são as de ontem, né? Não conversei ainda lá com o pessoal da Casa Civil. A notícia é que foi adiado para segunda ou terça a decisão", diz Decat.
Fernando o acalma: "Está tudo no script, apenas um pequeno adiamento".
Decat conta, então, que conheceu naquele dia -ou na véspera, não deixa claro- o ministro Edison Lobão (Minas e Energia), a quem caberia a indicação.
"Dei uma passada no ministério. Foi bom porque aí o conheci, funcionou aquela ideia de ir a ele." Lobão também foi indicado por Sarney.
Neste momento da conversa, Decat revela que o cargo tem dono: "Ele [Lobão] falou que o cargo é do presidente Garibaldi [Alves, na época presidente do Senado, eleito com o apoio de Sarney]."
Apesar de discutir a indicação de Decat, Fernando nunca ocupou cargo no governo federal. É um empresário do setor de rádio e TV.
Horas depois, Decat telefona novamente para Fernando. Desta vez, diz que não consegue mais contato com Roseana para confirmar o encontro com Sarney.
O empresário procura Roseana para saber o que dizer ao engenheiro. "Mando ele ir para a casa do meu pai?"
"Não manda ele vir agora não", responde ela. "Vou mandar ele te ligar", diz Fernando. "Não, agora não. Diz que ainda estou numa reunião, que está tudo empacado", afirma Roseana.
Fernando então telefona para Decat, desmarca o almoço e liga para o pai. "As coisas estão caminhando naquela direção", diz a Sarney. Fernando então orienta o pai: "Então é bom mantê-lo perto de ti, pô". Sarney responde: "É claro".
Depois de dez conversas, Decat se reúne com Sarney no gabinete dele no Senado. Sai de lá sem o cargo que queria, mas três meses depois assume a diretoria criada na Eletrobras.


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