São Paulo, domingo, 08 de agosto de 2010

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Deputados usam dinheiro público em suas campanhas

Ao menos cinco gabinetes nos Estados foram utilizados para fim eleitoral

Mesmo durante recesso parlamentar de julho, 375 dos 513 deputados gastaram R$ 809 mil com combustível

SILVIO NAVARRO
DE SÃO PAULO
RANIER BRAGON
DE BRASÍLIA

Deputados de diversos partidos fizeram uso de verba pública no primeiro mês de campanha oficial.
Pelo menos cinco gabinetes nos Estados, custeados pela Câmara, foram usados para fim eleitoral. Além disso, 375 dos 513 deputados (75% deles) gastaram, juntos, R$ 809 mil em combustível rodando suas bases num período em que o Congresso estava em recesso e a eleição corria a todo o vapor.
A Folha identificou escritórios em São Paulo e no Rio que reembolsaram recurso público em julho e onde é possível conseguir material eleitoral. Oficialmente, a campanha começou no dia 6 de julho. Em Brasília, o Congresso passou metade do mês fechado e, na outra metade, teve quorum inexpressivo -foram apenas quatro dias de votação.
Em São Paulo, José Genoino (PT-SP) lançou na Câmara, em julho, nota fiscal no valor de R$ 334 para alugar sofá, cadeiras e mesas. No seu gabinete na zona oeste da capital, há pilhas de caixas com panfletos e adesivos. O petista disse que assumirá os custos a partir de agora.
Guilherme Campos (DEM-SP) informou à Receita Federal que o CNPJ da campanha, destinado à movimentação das despesas eleitorais, tem o mesmo endereço da sua representação parlamentar.
Procurado, seu advogado confirmou que se trata do mesmo imóvel, mas argumentou que representação e comitê eleitoral funcionam em salas separadas.
O escritório de Campos reembolsou R$ 1.738 da Câmara no mês passado para bancar despesas com aluguel, internet e papelaria.
No Rio, três gabinetes servem de QGs de campanha. No caso do deputado Arolde de Oliveira (DEM-RJ), a saudação da telefonista é autoexplicativa: "Arolde de Oliveira 2502, bom dia!", em referência ao número na urna.
O CNPJ para arrecadação de recursos da campanha também está registrado no mesmo endereço do escritório político. No mês anterior, apresentou notas fiscais para bancar R$ 3.081 referentes a aluguel, garagem e TV a cabo. Ele afirmou que, "se houve erro, será estornado".
Alexandre Cardoso (PSB-RJ) estocou e distribuiu santinhos, mas pediu reembolso de R$ 1.518 pelo condomínio do prédio. Segundo ele, duas mulheres contratadas retiravam o material do local antes de sair para fazer campanha na rua. O deputado disse que vai devolver o dinheiro.
A reportagem flagrou folhetos entregues no escritório de Jorge Bittar (PT-RJ). Em julho, ele entregou recibos no valor de R$ 3.136 para custear condomínio e garagem.

GASOLINA
Num mês em que só 10% dos deputados marcaram presença nas 12 sessões deliberativas em Brasília, a Câmara desembolsou R$ 809 mil em combustível. Os parlamentares justificaram os gastos com recibos de postos de gasolina situados nas respectivas bases eleitorais. Um grupo de 58 dos 513 deputados usou a cota máxima mensal de R$ 4.500.
Para efeito de comparação, R$ 4.500 em combustível significa capacidade para circular 20 mil km em um carro popular -com base no preço médio da gasolina nos postos de Brasília.
O gabinete de pelo menos um deputado admitiu que o uso do combustível está relacionado às eleições. A assessoria de Natan Donadon (PMDB-RO) disse que ele teve que "percorrer todo o Estado em função das eleições".


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