A campanha eleitoral exige um mínimo de seriedade. O candidato A se preparava para um importante encontro no meio empresarial. Em pauta, questões de investimento e energia. Nervosismo no comitê.
-Biocarburantes. Qual a nossa proposta para biocarburantes renováveis?
-Quem sabe disso é o Renatão. Ô, Renatão!
O rapaz tinha dado uma saidinha.
-Pega o laptop dele. Traz aqui.
O candidato A inclinou-se sobre a telinha do aparelho. O olhar atento. Compenetrado. Reflexivo. Números e tabelas corriam com rapidez pelo cursor. Ele clicou num link. "A energia que vem da terra."
Um clássico comercial de aguardente apareceu na janela. Antiga e premiada peça do publicitário Lourivaldo Espina.
-Mas é a mesma música da nossa campanha. Cadê o Renatão?
Belíssimas morenas de fio dental mostravam toda a energia de que é capaz a população mobilizada.
Renatão entrou na sala exalando alta octanagem de euforia.
-É fogo na roça... Fogueira na plantação. Ê, ê, ê.
O plano de biocarburantes foi concluído às pressas.
-Põe aí que a gente vai continuar o que está sendo feito. Só que acelerando o ritmo.
Campanha política não é como fio dental. Sempre dá para reciclar. Mas sem perder o jogo de cintura jamais.


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