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"Pragmático", NE rico e pobre vota em Dilma
Diferentemente do Sul e do Sudeste, onde votos no PSDB aumentam conforme a renda, região escolheu em massa o PT
Votação em Dilma foi homogênea no Nordeste e ajuda a explicar bom desempenho de aliados, como Eduardo Campos
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE
Micinéia Santos e o marido, Pedro, votaram em Dilma
Rousseff (PT) para presidente e em Eduardo Campos
(PSB e aliado de Dilma) para
governador em Pernambuco.
Favelados no Suvaco da
Cobra, em Jaboatão dos Guararapes, vizinha a Recife, e
com três filhos dependentes
do Bolsa Família, Pedro e Micinéia dizem que a vida vem
melhorando. Daí a escolha.
A meia hora de carro da favela, o empresário Leonardo
Simões, diretor de um terminal de contêineres no porto
de Suape, no litoral sul de
Pernambuco, toma cerveja
na praia de Boa Viagem. Ele
conta que também votou em
Dilma e em Campos.
Micinéia, Pedro e Leonardo não têm nada em comum,
a não ser o fato de serem pernambucanos e representarem os pobres e ricos que votaram nas mesmas pessoas.
Ao contrário do que se deu
no Sul e no Sudeste, onde os
votos para o PSDB ficaram
concentrados em "ilhas" de
renda e escolaridade elevadas cercadas pelo vermelho
do PT, o Nordeste pobre e rico votou em massa (e de forma homogênea) em Dilma e
em seus aliados.
Eduardo Campos, reeleito
governador no primeiro turno com 83% dos votos válidos, arrisca uma explicação:
"A sociedade cansou.
Quer gente que faça a coisa
funcionar. E a vida do povo,
melhorar. Quer a profissionalização da política", diz.
Neto do ex-governador Miguel Arraes, ele faz parte de
uma nova (mas também antiga) elite política nordestina.
Popular, Campos puxou
votos para que a mãe, Ana
Arraes, se reelegesse deputada federal. Segundo levantamento feito pela Folha, cerca
de 126 congressistas eleitos
neste ano são parentes de
clãs e políticos tradicionais.
Campos considera uma
"caricatura" dizer que faz
parte de uma nova "oligarquia empresarial" acomodada em partidos de "esquerda", como o PSB (que aumentou de 4 para 6 o número
de governadores).
O empresário Leonardo Simões se diz um convertido à
lógica do "prometer e entregar" exposta pelo governador. Ex-eleitor de José Mendonça Filho (DEM) para o governo em 2006, Simões diz
ter até um primo no PSDB.
"Mas Campos representa a
aproximação com o governo
federal, que traz uma chuva
de oportunidades para Pernambuco", diz. "Não faria
sentido votar no PSDB ou em
seus aliados. Está aí o que
aconteceu a Marco Maciel."
Ex-vice-presidente de
FHC, Maciel (DEM) sofreu
sua primeira derrota eleitoral, perdendo o cargo de senador por Pernambuco.
Nesse contexto, o empresário Milton Hiroshi Amano,
é uma minoria. Ele votou em
Jarbas Vasconcelos (PMDB)
para o governo e em José Serra (PSDB) para presidente.
Além de ter uma "bronca"
com o PT por conta de greves
passadas, Amano não é pernambucano. Está há 42 anos
no Estado, mas veio de São
Paulo, Estado onde Serra obteve 54 % dos votos.
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