São Paulo, segunda-feira, 08 de novembro de 2010

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"Pragmático", NE rico e pobre vota em Dilma

Diferentemente do Sul e do Sudeste, onde votos no PSDB aumentam conforme a renda, região escolheu em massa o PT

Votação em Dilma foi homogênea no Nordeste e ajuda a explicar bom desempenho de aliados, como Eduardo Campos

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

Micinéia Santos e o marido, Pedro, votaram em Dilma Rousseff (PT) para presidente e em Eduardo Campos (PSB e aliado de Dilma) para governador em Pernambuco.
Favelados no Suvaco da Cobra, em Jaboatão dos Guararapes, vizinha a Recife, e com três filhos dependentes do Bolsa Família, Pedro e Micinéia dizem que a vida vem melhorando. Daí a escolha.
A meia hora de carro da favela, o empresário Leonardo Simões, diretor de um terminal de contêineres no porto de Suape, no litoral sul de Pernambuco, toma cerveja na praia de Boa Viagem. Ele conta que também votou em Dilma e em Campos.
Micinéia, Pedro e Leonardo não têm nada em comum, a não ser o fato de serem pernambucanos e representarem os pobres e ricos que votaram nas mesmas pessoas.
Ao contrário do que se deu no Sul e no Sudeste, onde os votos para o PSDB ficaram concentrados em "ilhas" de renda e escolaridade elevadas cercadas pelo vermelho do PT, o Nordeste pobre e rico votou em massa (e de forma homogênea) em Dilma e em seus aliados.
Eduardo Campos, reeleito governador no primeiro turno com 83% dos votos válidos, arrisca uma explicação:
"A sociedade cansou. Quer gente que faça a coisa funcionar. E a vida do povo, melhorar. Quer a profissionalização da política", diz.
Neto do ex-governador Miguel Arraes, ele faz parte de uma nova (mas também antiga) elite política nordestina.
Popular, Campos puxou votos para que a mãe, Ana Arraes, se reelegesse deputada federal. Segundo levantamento feito pela Folha, cerca de 126 congressistas eleitos neste ano são parentes de clãs e políticos tradicionais.
Campos considera uma "caricatura" dizer que faz parte de uma nova "oligarquia empresarial" acomodada em partidos de "esquerda", como o PSB (que aumentou de 4 para 6 o número de governadores).
O empresário Leonardo Simões se diz um convertido à lógica do "prometer e entregar" exposta pelo governador. Ex-eleitor de José Mendonça Filho (DEM) para o governo em 2006, Simões diz ter até um primo no PSDB.
"Mas Campos representa a aproximação com o governo federal, que traz uma chuva de oportunidades para Pernambuco", diz. "Não faria sentido votar no PSDB ou em seus aliados. Está aí o que aconteceu a Marco Maciel."
Ex-vice-presidente de FHC, Maciel (DEM) sofreu sua primeira derrota eleitoral, perdendo o cargo de senador por Pernambuco.
Nesse contexto, o empresário Milton Hiroshi Amano, é uma minoria. Ele votou em Jarbas Vasconcelos (PMDB) para o governo e em José Serra (PSDB) para presidente.
Além de ter uma "bronca" com o PT por conta de greves passadas, Amano não é pernambucano. Está há 42 anos no Estado, mas veio de São Paulo, Estado onde Serra obteve 54 % dos votos.


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