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Para analistas, país vive "nova era política"
Cientistas políticos afirmam que ciclo começou em 2006 e é marcado pela imposição de uma agenda social
Especialistas apontam Dilma como provável vencedora das eleições
e veem campanha de Serra na direção errada
UIRÁ MACHADO
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE (PE)
Três cientistas políticos
reunidos em um dos debates
mais importantes do 7º Encontro da ABCP (Associação
Brasileira de Ciência Política), de 4 a 7 de agosto, defenderam a tese de que o Brasil
entrou em uma "nova era política", marcada por demandas sociais e mais próxima de
países desenvolvidos.
"A hipótese é que o ano de
2006 marca o começo de um
novo ciclo no Brasil, em uma
situação que lembra os Estados Unidos de 1932. Lá, o ciclo inaugurado por Franklin
Roosevelt com o "New Deal"
durou até 1968", diz André
Singer, professor da USP.
Ex-secretário de Imprensa
do governo Lula, Singer explica que durante esse "ciclo
longo" pode haver alternância de partidos no poder.
"Determinados grupos sociais votam em bloco em um
tipo de candidatura. Mas o
que caracteriza o ciclo é a imposição de uma agenda à
qual os principais candidatos ficam constrangidos."
Para ele, no Brasil, a agenda imposta pela sociedade é
pautada pelo social.
"Isso explicaria por que
Dilma Rousseff (PT), José
Serra (PSDB) e Marina Silva
(PV) têm como metas principais o combate à pobreza e a
redução da desigualdade.
Podem até divergir quanto
aos meios, mas concordam
que o tema é central."
Segundo Marcus Figueiredo, cientista político da Uerj,
"o eleitorado aparentemente
está seguindo a hipótese" levantada por Singer.
"As eleições de Fernando
Henrique em 1994 e 1998 foram vitórias do Plano Real.
Após a mudança em 2002,
Lula iniciou uma nova era.
Não se discute mais a estabilidade econômica, que é um
ganho político da sociedade.
Agora é a ascensão social."
Para Figueiredo, "a população aprendeu que, pela política, são possíveis mudanças sociais. Há um processo
de recuperação de uma disputa política que estava ausente, com viés de classe".
O terceiro debatedor, Alberto Carlos Almeida, diretor
do instituto Análise, concorda: "Os programas sociais fizeram com que houvesse a
adesão dos pobres, ao passo
que o mensalão afastou os
mais ricos. No meu entender,
essa divisão de votos entre
PT e PSDB veio para ficar".
Almeida, autor do livro "A
Cabeça do Brasileiro", afirma
que essa "nova era em termos de disputa eleitoral e base social dos partidos" é muito semelhante à que existe
em países desenvolvidos.
ELEIÇÕES 2010
Na avaliação de Almeida,
o PSDB não entendeu bem o
que está em jogo neste ano e
"repete com sucesso uma fórmula de derrota. O PSDB está
reproduzindo no Serra a imagem que Geraldo Alckmin teve nas eleições passadas -e
que perdeu. Ou seja, a campanha tucana está ajudando
o governo a ganhar".
Almeida também afirma
não ver "hipóteses realistas"
em que Dilma não vence as
eleições deste ano -prognóstico, afirma, que já poderia ser feito desde o ano passado, pois depende mais da
aprovação de Lula que do desempenho do candidato.
Marcus Figueiredo, autor
de "A Decisão do Voto: Democracia e Racionalidade",
concorda que Dilma deve ganhar. Mas, lembra ele, "campanha serve para mudar tendências". E acrescenta: "O
Brasil nunca teve uma coleção de candidatos tão bons".
Para ele, "Serra teve o azar
de estar em duas disputas
importantíssimas na posição
errada: em 2002, na eleição
da mudança, ele era o candidato da situação; e agora que
o eleitorado quer continuidade, ele vem pela oposição".
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