São Paulo, quarta-feira, 09 de novembro de 2011

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Ministro diz que só deixa o governo 'abatido a bala'

Tom desagrada ao Planalto, mas ainda não há discussão sobre substituição

Após sofrer críticas dentro de seu próprio partido, o PDT, Carlos Lupi obtém nota de apoio da bancada

ANDRÉIA SADI
VALDO CRUZ

DE BRASÍLIA

Em meio a um tiroteio interno no PDT, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, reuniu ontem a bancada do seu partido para se explicar sobre suspeitas de corrupção na pasta e afirmou que só deixa o cargo "abatido a bala".
Em tom de desafio, que não agradou ao Palácio do Planalto, ele acrescentou que precisa ser "bala forte". "Porque eu sou pesadão."
O ministro disse ainda "duvidar" que a presidente Dilma Rousseff o demita do cargo. "Conheço bem a presidente, ela me conhece bem. Te garanto que não acontecerá."
Na reunião ocorrida na sede do partido, que durou mais de três horas, Lupi pediu unidade das bancadas de Senado e Câmara e bateu na tecla de que não há denúncia que o atinja diretamente.
Reportagem da revista "Veja" afirma que servidores e ex-servidores da pasta estariam envolvidos num esquema de cobrança de propinas para irrigar o caixa do PDT.
Apesar de divulgação de uma nota de apoio, em que a bancada declara "absoluta confiança" no ministro, Lupi enfrentou pedidos de congressistas do próprio partido para se afastar do cargo.
"Isso é democracia, cada um pode ter sua tese. Alguns achavam que era melhor eu me defender saindo, mas eu, não", disse o ministro.
Antes do encontro, parlamentares do PDT -os deputados Reguffe (DF) e Miro Teixeira (RJ) e o senador Pedro Taques (MT)- protocolaram na Procuradoria-Geral da República pedido para que o ministério seja investigado.
Ao final do dia, assessores presidenciais avaliaram que, por enquanto, não há razão para saída de Lupi por três motivos: até agora não surgiu acusação direta contra o ministro; ele conseguiu manter a seu lado a maioria da bancada do PDT e o procurador-geral Roberto Gurgel, ao analisar o pedido de pedetistas para investigar o ministério, disse não haver ainda nada que envolva Carlos Lupi.
A única crítica do Planalto a Lupi foi por causa de sua entrevista de ontem. A avaliação é que ele acabou perdendo uma boa oportunidade de ficar calado.
Durante o encontro do PDT, aliados e até críticos de Lupi na bancada chamaram de oportunista a iniciativa de colegas de pedir investigação à Procuradoria.
"Ele viram neste momento um oportunismo, não precisa disso. Fica parecendo que uns zelam pela ética e outros, não", disse Brizola Neto (RJ), que tem feito críticas a Lupi.
Miro Teixeira, que não participou da reunião devido a motivos de saúde, chamou de "normais" as críticas. "Eu acho que eu não preciso apoiar ou desapoiar, eu defendo que ele seja feliz."
Brizola Neto e o líder do PDT na Câmara, Giovanni Queiroz (PA), protagonizaram um dos momentos mais tensos da reunião. Exaltado, Neto rebateu declaração de Queiroz de que ele estaria interessado na vaga de Lupi.
Na saída, Queiroz disse que o ministro prestou todos os esclarecimentos e que se Lupi deixar o cargo o PDT sai do governo.
A ameaça foi apoiada por Paulinho da Força. "Se a Dilma tirar, está tirando o PDT."
Brizola Neto e Cristovam Buarque discordaram. "Defendo a independência . Qual o problema em deixar o governo?", disse o senador.

Colaborou MARCIO FALCÃO, de Brasília


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