São Paulo, quinta-feira, 09 de dezembro de 2010

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Procuradora quer ouvir militar sobre mortes na ditadura

Eugênia Gonzaga diz que ex-oficial do Exército pode ter alterado relato para encobrir assassinatos em 1970

Maurício Lopes Lima disse à Folha que jovens morreram em tiroteio; irmã de vítima cobra sua punição pelo caso

BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO

O Ministério Público Federal quer obrigar o militar reformado Maurício Lopes Lima, 75, a depor em juízo sobre ação chefiada por ele que resultou na morte de dois militantes da luta armada contra a ditadura, em 1970.
Ele admitiu, em entrevista publicada ontem pela Folha, ter comandado a operação que resultou na morte de Antônio dos Três Reis de Oliveira, 21, e Alceri Maria Gomes da Silva, 26, em São Paulo.
A procuradora Eugênia Augusta Gonzaga pretende usar o depoimento na ação que acusa o militar de praticar atos de violência contra 20 presos políticos.
Na versão de Lima sobre o episódio, os militantes teriam sido atingidos depois de Antônio disparar contra ele, mas a procuradora diz que o relato de uma cena de tiroteio pode ser apenas para se eximir de culpa pelas mortes.
"Muitos casos descritos como tiroteio são, na verdade, simulações de tiroteio para encobrir assassinatos. Era comum encontrar as vítimas com vida, tirar informações sob tortura e executá-las."
"O depoimento indica que a ação está no caminho correto. É muito importante ouvi-lo para desvendar o caso", afirmou a procuradora.
O Ministério Público também tenta localizar os restos mortais dos militantes, que foram enterrados clandestinamente no cemitério de Vila Formosa, em São Paulo.
"Sabemos que eles foram enterrados lado a lado, mas a quadra foi descaracterizada nos anos seguintes", disse Eugênia Gonzaga. "Será uma tarefa muito difícil."
Irmã de Antônio, a jornalista Maria do Perpétuo Socorro de Oliveira, 59, disse não acreditar no militar.
"Não acredito na versão de que ele reagiu. Não queremos revanche, mas a história precisa ser passada a limpo. Se houve tiroteio, é preciso saber se também houve algum ferido do lado dos militares", afirmou ela.
Estudante de economia, Antônio permaneceu na lista dos desaparecidos políticos até 1991, quando foi localizado o laudo do IML.
Apesar da desconfiança, a irmã dele disse estar aliviada com o depoimento do ex-oficial. "Passei a vida esperando o dia em que isso ia ocorrer. Nunca fomos atrás dele, mas agora queremos saber a verdade", disse.
A ação do Ministério Público Federal pede que Lima e outros três agentes da repressão sejam declarados responsáveis por torturas contra presos políticos.
Na lista de supostas vítimas do militar reformado estão a presidente eleita, Dilma Rousseff, e Virgílio Gomes da Silva, o Jonas. Ele foi morto sob tortura em 1969. Lima nega todas as acusações de maus-tratos.


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